Débora Motta
Reprodução |
Logo depois da prática de exercícios, observam-se mudanças positivas nos padrões de ondas cerebrais |
O estudo monitorou, durante um ano, idosos sedentários com diagnóstico clínico de depressão unipolar – doença que tem 20% de prevalência na população mundial. "Os pacientes que participaram do projeto sofrem de depressão maior, caracterizada por sentimentos constantes de tristeza, perda de ânimo e de prazer. Todos foram tratados com medicamentos no Instituto de Psiquiatria da UFRJ", diz Andréa Deslandes. Os voluntários foram divididos em dois grupos, com 10 pacientes cada. O primeiro passou a fazer exercícios físicos semanais, no campus da UFRJ da Praia Vermelha. O outro continuou sedentário. "No primeiro grupo, os pacientes passaram a fazer 30 minutos de caminhada, duas vezes por semana, além de tomar antidepressivos. O segundo grupo não realizou exercícios e apenas tomou remédios", explica a pesquisadora, que atualmente recebe apoio da FAPERJ por meio de uma bolsa de pós-doutorado, realizado na Fiocruz.
Os pacientes foram submetidos a eletroencefalogramas antes do início do programa de exercícios e depois do treinamento de um ano, para avaliar os padrões cerebrais. Os resultados do grupo de idosos com depressão que aderiu à caminhada são animadores. "Os sintomas da depressão diminuíram. Imediatamente após a realização dos exercícios, notamos diminuição da ansiedade. Houve melhora na capacidade funcional, aumento da atividade cortical e mudanças positivas nos padrões de ondas cerebrais, quando comparados os que se exercitaram e os sedentários", avalia. "Alguns pacientes melhoraram tanto que o psiquiatra conseguiu reduzir a medicação. O exercício físico realmente é eficiente no tratamento adicional da depressão em idosos", destaca.
Reunir os voluntários para a pesquisa não foi um processo tão simples. "Os pacientes são pessoas de baixa renda, que moram longe da Praia Vermelha. Foi preciso contar com o apoio constante de familiares para levá-los duas vezes por semana ao campus, durante um ano", conta Andréa Deslandes. O esforço valeu a pena. Mesmo com o fim do período de treinamento proposto pelo projeto, eles ganharam novos hábitos e mantêm a rotina de atividade física. "Hoje, esses voluntários não fazem mais parte da pesquisa, mas continuam praticando exercícios regularmente na UFRJ".
A pesquisadora desenvolve o projeto junto com uma equipe multidisciplinar, formada por fisioterapeutas, médicos, psicólogos e professores de educação física. O time continua a recrutar voluntários para outro teste. "Agora, vamos comparar os efeitos de três diferentes tipos de exercícios. Um grupo vai fazer caminhada. O outro, exercícios de força (musculação, como por exemplo o leg press). O terceiro só fará alongamento. O objetivo é investigar se as atividades aeróbicas são o tratamento mais indicado para reduzir os sintomas da depressão", diz Andréa.
As respostas dos exercícios para a saúde física já são bem conhecidas, mas seus efeitos no tratamento das doenças mentais foram pouco estudados. A pesquisa se torna inédita por investigar estes efeitos através da atividade cortical. "Os primeiros estudos realizados sobre o tema, na década de 1970, investigavam a relação entre fazer exercícios e ter menos depressão. Agora se estuda os exercícios físicos como uma intervenção, pelo menos adicional, ao tratamento da doença nos pacientes", pondera.
A avaliação cerebral por meio dos exames de eletroencefalografia (EEG) é um dos diferenciais do estudo, que levou o Prêmio Saúde é Vital, na categoria Saúde Mental e Emocional, da editora Abril, e foi publicado na revista internacional Biological Psychology. "Ainda se pensa muito nos benefícios dos exercícios para a melhora da forma física, mas eles não são só uma maneira de prevenir e tratar doenças físicas. Os exercícios são também um meio complementar importante para prevenir e tratar doenças mentais", conclui Andréa Deslandes. Ela adianta que o próximo passo da pesquisa será avaliar os efeitos da atividade física no cérebro de pacientes da terceira idade que sofrem doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson.
Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes