Vinicius Zepeda
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De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a ave está na lista dos animais mais ameaçados de extinção do País |
Segundo Sávio Bruno, em 2003, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis, órgão do governo federal que atua na preservação da natureza) catalogava 395 espécies animais ameaçadas de extinção no Brasil. Hoje, ele lamenta o crescimento desse número, que já chega a 627. Ao falar sobre o pato-mergulhão, ele destaca a importância da preservação da água potável – aquela limpa e própria para o consumo – não só na Serra da Canastra, mas em todo o planeta. “Precisamos chamar a atenção para o fato de que ela é cada vez mais escassa em nosso planeta. No caso do rio São Francisco – um dos mais importantes do País e cuja nascente se encontra na Serra da Canastra, Minas Gerais – a poluição ameaça não só a vida dos animais (entre eles, o pato-mergulhão), como também das populações humanas que habitam seu entorno”, explica. E prossegue: “Se nada for feito pelo homem para evitar a poluição das águas, as próximas gerações poderão assistir a uma crise jamais vivenciada pela espécie humana: a escassez de água e as consequências sociopolíticas dela decorrentes. Devemos recordar que esta escassez já é uma realidade em certas regiões do planeta", comenta.
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Sávio Bruno: um leão quando o assunto é defender a natureza |
Quanto às características físicas, o animal não tem uma cor tão exuberante quanto à de outros patos. “O macho é um pouco mais robusto e apresenta um penacho maior. A cor da cabeça varia de acordo com a luminosidade da região que habita, e vai do negro ao verde-garrafa mais intenso. A porção baixa do pescoço, asa e dorsos são acinzentados, à exceção da porção interna de suas rêmiges secundárias, que são as penas do espelho interno das asas”, explica Sávio Bruno. Os pés são vermelhos e o bico longo, fino e serrilhado é adaptado para sua alimentação, composta principalmente de peixes e de pequenos invertebrados debaixo d’água e sobre a vegetação ribeirinha. “O bico longo e serrilhado é essencial para capturar peixes, em grande parte lambaris, entre pedras e corredeiras, além de segurar os alimentos”, complementa.
Aves são monogâmicas e bastante zelosas com seu habitat e com sua família
A paixão de Sávio Bruno pelo que faz é tanta que durante as férias ele trabalha. “Durante a semana, estou atarefado, ensinando alunos na UFF. Também coordeno e participo de vários projetos voltados ao ensino, pesquisa e extensão universitária", diz. Dentre eles, a extensão do Hospital Veterinário da UFF, onde atua com sua equipe nos cuidados com animais silvestres e coordena um curso de pós-graduação, um projeto de extensão, de treinamento a profissionais que querem dedicar-se a fauna e as questões ambientais.
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O ritual de acasalamento em dois momentos: à esquerda, a fêmea se estica toda na superfície da água. À direita, o macho empurra a fêmea com o peito para mostrar o quanto pode ser cuidadoso e dedicado |
Apesar de solteiro e sem filhos, como educador, Sávio Bruno se sente bastante responsável pela formação de seus alunos e se mostra extremamente realizado com as demonstrações de admiração e afeto que vem recebendo ao longo dos anos. Ele, inclusive, aproveita a solidão do trabalho de campo para fazer reflexões a respeito de como os homens têm esquecido de cuidar uns dos outros. “No caso do pato-mergulhão, os casais têm vida longa e um período reprodutivo que se estende por anos a fio, principalmente em junho e julho, o inverno brasileiro”, explica. “O casal fica junto por toda a vida, sempre no mesmo trecho do rio, que varia de cinco a dez quilômetros de extensão. Além disso, escolhem bem o local onde realizarão o ritual de acasalamento e que lhes servirá de habitat, e cuidam com muito zelo dos filhotes até que eles se tornem independentes”, explica. A observação da natureza, na opinião do pesquisador, traz ensinamentos diários. "O próprio comportamento da ave nos dá esse exemplo. Quando os filhotes estão deixando o ninho, os pais os incentivam com sons a empreender os primeiros mergulhos à cata de alimentos", observa.
A descrição que o documentário faz do ritual de acasalamento também é outro ponto marcante na história dos patos-mergulhões. Durante a corte, eles fazem uma série de movimentos para excitar e manter os laços entre os parceiros. A fêmea permanece imóvel, com cabeça e pescoço esticados de maneira a formar uma tênue linha sobre a superfície da água. Às vezes, ela balança rapidamente as asas, emitindo um som rouco direcionado ao macho. “Este comportamento estimula o macho, que dá curtos e vigorosos mergulhos por debaixo da fêmea, na tentativa de convencê-la do quanto é saudável e viril. Em outro momento, passa a empurrá-la com o peito para demonstrar o quanto pode ser cuidadoso e dedicado”, explica Sávio Bruno. Já o ato sexual em si resulta na principal característica que diferencia fisicamente os machos das fêmeas. “Ele monta sobre a fêmea e usa seu próprio bico para prender-lhe o penacho. Frequentemente, com o peso de seu corpo, o macho chega a submergi-la completamente. Desta maneira, as repetidas cópulas acabam tornando o penacho da fêmea bem menor que o do macho”, acrescenta.
No momento, o pesquisador se encontra na Serra da Canastra, estudando os primeiros momentos em que o pato-mergulhão começa a procriar. Ele sonha com uma edição revista, ampliada e bilíngue do documentário para ser divulgada não só no País, como no exterior. E alerta sobre a destruição do meio ambiente pela ação humana. “Desde o começo da existência do nosso planeta, muitas espécies animais evoluíram ou se extinguiram por catástrofes ambientais e fenômenos naturais, como os dinossauros, por exemplo. A extinção é um processo natural. Temos que deixar que a vida flua e evolua, mas não podemos deixar que ela se extingua por nossa ação”, conclui.
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