Débora Motta
Reprodução |
Fósseis de mastodontes encontrados em Araxá indicam que eles viveram há cerca de 11 mil anos, no final do Pleistoceno |
No entanto, um passo importante foi dado nesse caminho. Estudos coordenados pelo paleontólogo Leonardo dos Santos Avilla, do Laboratório de Mastozoologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), sugerem como viviam e apontam uma possível justificativa para a extinção da maior assembleia (conjunto) desses mamíferos, cujos fósseis foram encontrados na América do Sul. Há aproximadamente 11 mil anos, período correspondente ao final do Pleistoceno ou “Era do Gelo”, cerca de 80 mastodontes viviam na região que hoje abriga o município mineiro de Araxá.
As ossadas desses mamíferos foram coletadas nos anos 1930, no interior de uma espécie de “caldeirão” – estrutura geológica onde se deposita uma grande concentração de ossos fossilizados com a mesma origem. “O local pode ter sido um lago, para onde os ossos dos mastodontes foram arrastados devido à ação das chuvas, e ali se conservaram ao longo dos anos”, diz Avilla, lembrando que os fósseis ficaram armazenados no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), longe da análise científica por décadas, até o momento em que se retomaram os estudos dos materiais.
Morte catastrófica durante enchente
Para desvendar a causa da morte em massa dos “primos” ancestrais dos elefantes, a equipe investiga diversas pistas registradas nas ossadas. Uma delas é a avaliação do desgaste dentário dos mastodontes, que ajuda a determinar a faixa etária que tinha cada animal da assembleia. Esse é o alvo do estudo de Dimila Mothé, aluna de Avilla que contou com uma bolsa de iniciação científica concedida pela FAPERJ. Seu trabalho foi submetido à revista científica Paleobiology.
Divulgação/UniRio |
Desgaste dentário observado nas arcadas dos fósseis |
Divulgação/UniRio |
Pesquisa inova ao investigar os hábitos alimentares dos mamíferos por meio de fitólitos armazenados no tártaro |
Perfurações de besouros traçam histórico dos fósseis
Outra pista preservada na ossada ao longo dos milhares de anos, que traz à tona detalhes preciosos para os pesquisadores, são os túneis cavados por besouros nas carcaças, durante o tempo em que estiveram expostas fora do “caldeirão”. Outro aluno de Avilla, Victor Hugo Dominato, observou 43 perfurações em cinco vértebras cervicais, que serviam como ninho para as pupas de besouros.
“Os besouros adultos depositam suas pupas nas carniças, que se alimentam da medula óssea, conhecida como tutano”, explica Dominato, assinalando que o estudo – que resultou na publicação de um artigo na Revista Brasileira de Paleontologia – possibilita traçar um histórico do que houve com a ossada desde a morte dos mastodontes até quando foram fossilizadas.
“As marcas deixadas na ossada são bem características de besouros e indicam o tempo que ela ficou exposta antes de ser soterrada no caldeirão, que foi de cerca de dois anos”, completa o professor Leonardo. Ele também pesquisa, com apoio da Fundação e em parceria com a professora Valéria Gallo da Silva, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a biogeografia histórica desses mamíferos no continente americano.
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