Elena Mandarim
Divulgação/UniRio |
Células musculares esqueléticas: quantificar suas |
Cameron explica que o grande diferencial do projeto, financiado em parte pelo Auxílio à Pesquisa (APQ 1), da FAPERJ, é a especificidade do método desenvolvido: primeiro, foram selecionados alvos encontrados somente nas células musculares esqueléticas. A partir daí, se seleciona, em laboratório, um anticorpo capaz de se ligar a esses alvos, que neste caso atuarão como antígenos. "Depois de muitos testes, teremos um modelo ideal de anticorpo, que poderá ser patenteado", entusiasma-se.
A última etapa é juntar os conhecimentos gerados na pesquisa para criar o protótipo do biossensor, que servirá para converter o número de reações antígeno-anticorpo em um diagnóstico plausível. De forma resumida, trata-se de um instrumento que contém uma sonda – neste caso, um eletrodo formado com anticorpos específicos para os alvos selecionados – e um transdutor – dispositivo que converte um tipo de informação em outra. "Nossa proposta é criar um equipamento portátil, similar ao que é utilizado para quantificar glicemia para monitoramento de diabetes."
Para Cameron, outra aplicação do estudo é contribuir para o desenvolvimento de novas tecnologias que favoreçam a discriminação entre microlesões de células musculares esqueléticas e de células musculares cardíacas - responsáveis pelo funcionamento do coração. "Essa diferenciação é essencial para determinar a origem das microlesões, que podem ser decorrentes de eventos cardiovasculares, como o infarto agudo do miocárdio, ou de esforço físico", esclarece o pesquisador.
Motivações do estudo
Cameron explica que, classicamente, as microlesões são estimadas pela avaliação dos níveis de determinados biomarcadores circulantes no sangue, que variam com atividade física e com alguns eventos cardíacos. Entre eles, a lactato desidrogenase (LDH) - enzima presente em células musculares -, que tem seus níveis sanguíneos aumentados após a prática de exercícios, e outras proteínas musculares, como a creatina quinase, que, de acordo com alguns estudos, aparece elevada em casos de infarto e outras cardiopatias.
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Opondo-se ao método clássico (acima), sistema proposto no projeto é portátil, específico e com resultados instantâneos |
Destina-se também ao monitoramento da evolução clínica de pacientes submetidos à fisioterapia para reabilitação motora e cardíaca. E ainda, em um futuro próximo, pode-se imaginar seu uso em hospitais e ambulâncias, para diagnóstico diferencial de infarto agudo do miocárdio. "No primeiro momento, usamos anticorpos específicos para proteínas esqueléticas. Contudo, seguindo a mesma base de estudos, pretendemos produzir anticorpos específicos para proteínas cardíacas", adianta Cameron.
Preparativos para a década esportiva
Em reconhecimento a seus estudos, Cameron foi convidado a participar de um grande projeto do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), entidade responsável pela organização das Olimpíadas de
Segundo o pesquisador, observando os resultados das competições mundiais, conclui-se que a diferença de tempo que separa os atletas brasileiros dos campeões é de segundos e, às vezes, de milésimos de segundo. “Essa pequena diferença é resolvida com ciência”, declara Cameron. “A ideia do Laboratório Olímpico surgiu, justamente, para aplicar o conhecimento científico ao esporte brasileiro, com o objetivo de maximizar o rendimento de nossos atletas”, justifica.
Cameron conta que a concepção do projeto foi descrita na edição de abril da revista Science e tem como objetivo aliar o investimento público e privado. “A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) aplicou recursos iniciais de R$ 13 milhões. Algumas empresas privadas já são patrocinadoras dessa iniciativa, mas ainda buscamos novas parcerias com o setor privado”, complementa.
Para o pesquisador, é importante atender às filosofias contemporâneas. Seus projetos visam sempre produzir conhecimentos específicos em bioquímica, que possam ter aplicações práticas. “O desenvolvimento do sistema de detecção de microlesões em células musculares esqueléticas está dentro da lógica do mercado atual: é portátil, é específico e eficaz e fornece resultados instantâneos”, conclui.
De acordo com Cameron, o procedimento desenvolvido é um bom exemplo da aplicabilidade dos conhecimentos em ciência de base na ciência aplicada. Neste caso, profissionais de saúde que atuam tanto no treinamento para a população fisicamente ativa, atleta ou não, quanto no tratamento de reabilitação motora e cardíaca, ganharam um forte aliado.
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