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Publicado em: 10/02/2011
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Chuvafina: para irrigar pequenas propriedades fluminenses

 Divulgação

         
     Válvula inovadora: quantidade de água até
   20 vezes menor que a irrigação convencional


Vilma Homero

Estados Unidos e Israel são países que investem pesado no desenvolvimento de tecnologias para a irrigação. Utilizam sistemas eficientes, mas de alto custo para a realidade do pequeno produtor brasileiro. Considerando os benefícios que a irrigação pode trazer para um estado como o Rio de Janeiro, o pesquisador André Leonardo Tavares Paula, da empresa Chuvafina Irrigação, vem trabalhando num sistema mais sustentável e econômico para áreas que contam com poucos recursos de água e energia. Baseado em uma válvula de pulso hidráulico, o novo equipamento permite a irrigação, por aspersão, mesmo com uma quantidade de água até 20 vezes menor que a irrigação convencional, mas com a mesma eficácia.

Com uma geografia peculiar, o Rio de Janeiro tem grande parte de seu território em áreas acidentadas, com declive acentuado. "São áreas em que o cultivo mecanizado não é adequado e onde a irrigação convencional também se torna difícil. Por isso, o equipamento Chuvafina tem como alvo as pequenas propriedades de agricultores familiares. Com ele, pode-se cultivar produtos de maior valor agregado, adequando-se o equipamento de irrigação mesmo quando há pouco volume de água", explica André Tavares. Técnico em Mecânica pelo Cefet-RJ, mestre em Engenharia Agrícola, na área de Recursos Hídricos e Ambientais, pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), o pesquisador contou com recursos da FAPERJ por meio do edital de Apoio à Inovação Tecnológica para desenvolver um sistema simples, barato e eficaz.

Trata-se de uma válvula de pulso, que é ligada a aspersores, de um lado, e a uma bomba, do outro. "A válvula Chuvafina pode ser adaptada a qualquer quantidade de água. A única diferença é quanto menos água houver, mais lenta será a aspersão. Para reduzir custos, orientamos os agricultores a usarem o equipamento à noite. Assim, além de uma irrigação sem a ação do vento ou do calor do sol, que levam à evaporação de parte da água aspergida, ele também poderá contar com a redução de tarifas de energia elétrica. Tudo isso reduz custos", fala o pesquisador.

Para se ter uma ideia de como funciona e a economia proporcionada pelo equipamento, André exemplifica: "No sistema convencional, para irrigar um terreno plano área de hectare, ou 5 mil metros quadrados, é necessário usar uma bomba de 3 cavalos de potência, com vazão de 10m3/h. Com o equipamento Chuvafina, uma bomba de cavalo é suficiente, desde que tenha vazão de 1m3/h", diz. Segundo os cálculos já projetados, são necessários 25 aspersores por hectare. "Com o nosso equipamento, pode-se usar uma bomba de 1 cavalo para cada hectare."

Tavares explica ainda que no mercado há uma variedade de aspersores, de 500 litros/hora até 2.000 litros/hora, que podem ser adaptados ao sistema. "Nosso equipamento tem flexibilidade; nossa válvula pode trabalhar com qualquer quantidade de água e com aspersores de qualquer vazão, entre 500 e 2.000 litros/hora, que são os mais comuns. Quanto maior a vazão do aspersor, maior a distância que a água é lançada."

O projeto teve início em 2003, durante um período de seca prolongada em Conceição de Macabu, no norte do estado. Diante de um cenário de perda de colheitas e morte de animais, André Tavares procurou desenvolver técnicas de irrigação convencionais em propriedades rurais locais. Com a escassez de infraestrutura de água e energia, além do custo elevado para áreas relativamente pequenas, o projeto não foi bem-sucedido. Em 2009 foi criada, naquele mesmo município, a empresa Chuvafina, especializada em irrigação. A ideia era identificar as necessidades dos produtores e entender melhor o mercado para o produto.

"Nas experiências feitas, observamos que houve grande aceitação dos protótipos pelos pequenos produtores. Na época, o problema identificado era a vida útil da válvula, considerada baixa em relação à expectativa dos produtores. Nesses quase sete anos de projeto, em que foram desenvolvidos sucessivos protótipos, o problema foi resolvido e a empresa chegou ao produto atual, capaz de irrigar de modo eficiente pequenas plantações. Durável e adaptável a qualquer tipo de relevo ou cultivo, o Chuvafina já tem pedido de registro de patente nacional e internacional. "Nossas válvulas agora têm vida útil de dois anos", assegura o pesquisador.

 Divulgação

     
       Em unidade experimental no interior, a irrigação permitiu produzir
       capim suficiente
para alimentar oito vacas em lugar de apenas uma 

Como forma de testar e acompanhar as vantagens da tecnologia criada, a empresa implantou três unidades experimentais. "Queríamos também identificar os benefícios sociais da agricultura irrigada, a possibilidade de geração de emprego e renda em lugares de pouca água e energia", conta Tavares. Uma das unidades foi implantada numa área ao lado da própria empresa. Ali, num terreno originalmente baldio, o acesso ao sistema de irrigação permitiu que agricultor passasse a cultivar quiabo orgânico, utilizando a água de seu poço residencial. Com a mão-de-obra de apenas uma pessoa, o cultivo tem tido rendimento de R$ 90 diários, o que significa uma renda de cerca de R$ 2.700 mensais. Na segunda unidade, foi implantada numa pastagem intensiva para a alimentação de gado de leite. Antes, a taxa de ocupação era de uma vaca por hectare. Depois da irrigação, o pasto passou a produzir capim suficiente para oito vacas no mesmo espaço. Na terceira unidade, foi instalada num morro de 70 metros de altura. Como num aclive como esse, a irrigação movida a energia elétrica se torna inviável, foi preciso recorrer a uma roda-dágua. Só assim, com o uso de energia alternativa, foi possível irrigar a área de hectare, apesar da altura.

O pesquisador ainda aposta em mais outro produto: o Irrigassol. Trata-se de um relógio que calcula a necessidade de irrigação do solo de acordo com as variações do clima. Ou seja, em dias muitos ensolarados, o tempo necessário de irrigação será maior do que em dias nublados, por exemplo.

Ele espera que, no ano que resta para concluir o projeto, a empresa consiga produzir a válvula padronizada industrialmente, e dar início à comercialização. "Nosso objetivo é conseguir, com o nosso produto, popularizar a agricultura irrigada e ampliar seus benefícios sociais, ambientais e econômicos."

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