Elena Mandarim
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Equipe do Inca aposta no desenvolvimento de terapias contra a |
Adriana esclarece que transplante de medula óssea é indicado para certas doenças que afetam células sanguíneas, como leucemias e linfomas. O procedimento, resumidamente, consiste em substituir a medula óssea doente, ou deficitária, por células retiradas de uma medula óssea sadia. “O paciente recebe o transplante como se fosse uma transfusão de sangue. Ao cair na corrente sanguínea, as células imaturas se alojam na região da medula óssea, reconstiuindo-a de forma saudável, o que chamamos de ‘pega’”, conta..
Ela explica que no material transplantado há células imaturas e células maduras, que produzem resposta antitumoral. Entre as maduras, estão os linfócitos que podem gerar rejeição celular. “É como se fosse uma doença autoimune, em que o sistema imunológico ataca o próprio organismo”, exemplifica.
Mais do que estudar a dinâmica da doença do enxerto, Adriana busca controlar os efeitos da rejeição sem atrapalhar a resposta antitumoral. Uma solução pareceria óbvia: retirar os linfócitos do material a ser transplantado para evitar a rejeição. A pesquisadora adverte, contudo, que, ao se fazer isso, o índice de o tumor reaparecer é de 60% e as chances de ocorrer a “pega” das células transplantadas diminui
A pesquisadora conta que uma forma de se conseguir isso, descrita na literatura, se resume em transplantar o conteúdo recolhido do sangue de um doador tratado com fator de crescimento para células sanguíneas, o que faz aumentar o número de células-tronco circulante na corrente. O resultado apresentado foi a diminuição na incidência da doença do enxerto, apesar do material conter dez vezes mais linfócitos.
Ao observar o elevado número de células de defesa (granulócitos) – no material transplantado, o grupo de pesquisa de Adriana atentou para uma hipótese. Viram, in vitro, que os granulócitos suprem a atividade dos linfócitos. Segundo a pesquisadora, em testes com camundongos transplantados que receberam granulócitos houve 100% de inibição da doença do enxerto, confirmando in vivo os resultados obtidos in vitro com células humanas.
Na etapa atual, Adriana estuda a ação dessas células para entender como agem na prevenção da doença. Outra dúvida que surge é se a resposta antitumoral é preservada. “Antes de propor um modelo experimental em humanos precisamos aprofundar esses conhecimentos. Cabe destacar que os estudos com granulócitos são realizados em parceria com a professora Tereza Christina Barja-Fidalgo, da Uerj”, diz.
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Nos testes de indução de tolerância oral, com camundongos, evitou-se a doença do enxerto em 100% dos casos |
Outra possibilidade de controlar a incidência da rejeição, para Adriana, é induzindo tolerância oral: o camundongo doador recebe proteínas do camundongo receptor, acrescida de probióticos – organismos vivos bacterianos, neste caso lactoccocos –, que conferem benefícios à saúde. O objetivo é que, no pós-transplante, não haja resposta imunológica agressora autoimune.
“Após a indução dessa tolerância oral, a medula do animal doador foi transplantada no receptor e obtivemos 100% de inibição da doença do enxerto. Agora, implantamos um tumor no animal a ser transplantado e vamos repetir o experimento, para ver se a resposta antitumoral é preservada. Esses estudos são realizados em parceria com a professora Ana Maria de Faria, da UFMG”, explica a pesquisadora.
Outra linha de pesquisa
De acordo com Adriana, a segunda linha de pesquisa consiste em compreender a relação dos linfócitos T e a dinâmica do ciclo vicioso da metástase óssea. “O ciclo vicioso é quando células com potencial metastásico se desprendem do tumor primário e chegam à medula. Lá se desenvolvem, favorecendo o crescimento de células que produzem osso, que por sua vez favorecem a produção de células que ‘comem’ osso. Elas liberam fatores de crescimento que mantêm o desenvolvimento do tumor”, esclarece.
Ela explica como foi o experimento: “células de tumor de mama e seus subclones foram implantadas em mamas de camundongos fêmeas. O primeiro tipo faz metástase e o segundo produz apenas tumor local”, conta a pesquisadora, ressaltando que o modelo de tumor de mama foi escolhido porque 70% dos casos evoluem para metástase óssea.
Segundo Adriana, observou-se que quando o tumor primário tem potencial metastásico, os linfócitos T atuam de modo a favorecer a implantação da metástase óssea. “Antes das células metastásicas chegarem ao osso, os linfócitos T preparam o nicho pré-metastásico, local propício para o crescimento do novo tumor”, relata.
Para Adriana, a solução seria silenciar, junto aos linfócitos, a expressão das moléculas que favorecem o crescimento das lesões ósseas. “Acreditamos que duas citocinas estejam diretamente envolvidas no crescimento das metástases ósseas. Pretendemos inibir, experimentalmente, a expressão dessas duas citocinas nos linfócitos”, adianta.
Segundo Adriana, os resultados sugerem ainda que a presença dos linfócitos que produzem as tais citocinas sirva para estabelecer o prognóstico de pacientes com tumor de mama. “A hipótese é que o tipo de citocina produzida pelos linfócitos das pacientes com tumor de mama indica se o tumor será metastático ou não. Os estudos começarão em breve e contarão com a colaboração do professor Ricardo Bentes Azevedo, da UNB”, aposta.
“Eu coordeno essas linhas de pesquisa, mas a boa execução dos experimentos se deve ao meu grupo, com destaque para a doutoranda Ana Carolina Mercadante, as estudantes Ana Carolina Monteiro e Suelen Perobelli e a técnica Ana Paula Gregório Alves”, destaca. “É importante que, cada vez mais, se realizem pesquisas para aumentar a base do conhecimento sobre a dinâmica dos tumores e suas terapias”, conclui Adriana.
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