Débora Motta
Genilton Vieira/ IOC |
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No âmbito da pesquisa, o professor Amilcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dedica-se ao desenvolvimento de uma droga capaz de impedir a replicação do vírus da dengue dentro das células do organismo da pessoa infectada. Ele conseguiu sintetizar, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF), uma substância que inibe duas enzimas produzidas pelo vírus da dengue ao infectar uma célula: a replicase e a protease, fundamentais para a replicação viral.
O projeto foi contemplado pela FAPERJ com o edital Estudo de Doenças Negligenciadas e com o Programa de Apoio aos Núcleos de Excelência (Pronex - Rede Dengue), uma rede nacional de pesquisas pioneira no Brasil que reúne esforços acadêmicos para o diagnóstico rápido, o controle e o tratamento da doença. Esta foi criada em
A substância pode ser a base para o desenvolvimento de uma nova droga antiviral que, no futuro, pode representar uma importante arma no tratamento de pessoas infectadas, por bloquear as enzimas intimamente relacionadas com a replicação do vírus da dengue no corpo do paciente, cortando o mal pela raiz. “Ao impedir a replicação do vírus, seria possível baixar a quantidade viral no organismo do doente e tornar mais brandos os sintomas da dengue, impedindo que eles evoluam para quadros mais graves, como a dengue hemorrágica”, explica Tanuri, que não descarta que a substância também possa ser utilizada como base para a criação de vacinas, que podem ser uma arma preventiva da dengue durante os surtos epidêmicos. “O remédio poderia reduzir os efeitos de novas epidemias da doença no Brasil, que até então não apresenta nenhuma vacina aprovada ou uma terapia antiviral efetiva”, destaca.
O estudo, em curso há três anos, está em fase de testes preliminares. A nova substância ainda não foi submetida a testes clínicos, em humanos, mas foi sintetizada quimicamente depois de um trabalho minucioso. “Rastreamos mais de 850 moléculas e chegamos a duas moléculas interessantes. Uma é capaz de inibir a protease viral, ligada à maturação do vírus dentro das células, e a outra é capaz de inibir a replicase do vírus, relacionada diretamente à replicação dele”, conta. De acordo com Tanuri, ela apresentou resultados animadores em testes laboratoriais realizados com células humanas e com células extraídas de macacos, in vitro. “Confirmamos a capacidade da droga de inibir o papel das enzimas ligadas à replicação do vírus da dengue, que foi isolado em um tubo de ensaio. Também houve resultados positivos em experimentos com células do fígado humano e com células de macacos, ambas infectadas com o vírus da dengue”, resume.
Para o professor, a grande vantagem da nova tecnologia para a produção da droga seria a capacidade dela atuar sobre todos os quatro sorotipos da dengue – tipo 1 (DEN1), tipo 2 (DEN2), tipo 3 (DEN3) e tipo 4 (DEN4). Atualmente, há uma dificuldade técnica para o desenvolvimento de uma vacina ou um tratamento que seja igualmente ativo para os diversos sorotipos. “A ideia de impedir a replicação do vírus na célula do paciente infectado é uma estratégia importante porque pode, na verdade, permitir o desenvolvimento de uma droga que iniba os quatro sorotipos da dengue”, ressalta. “É o inicio de um conceito de que pode haver uma droga que iniba o vírus da dengue”, completa.
O próximo passo da pesquisa é aprimorar os compostos inibidores das enzimas virais da dengue para que eles possam ser utilizados com segurança em testes clínicos, realizados em humanos. “Esperamos que nos próximos três anos estejamos em fase de testes clínicos e possamos fechar parcerias para inserir o produto no mercado”, diz Tanuri. No momento, o objetivo é sintetizar variantes desses compostos químicos que sejam menos tóxicas ao organismo infectado. “Estudamos como minimizar a toxicidade da droga para que ela tenha efeitos apenas sobre o vírus da dengue e não afete as células infectadas”, explica o professor, lembrando que o pedido de patente da droga já foi depositado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Entre os pesquisadores envolvidos no projeto estão o professor Vitor Ferreira, Estela M. F. Muri, Maria Cecilia B. V. de Souza, Helena de Souza Pereira, Sergio Pinheiro e Ana Claudia Cunha, todos da Universidade Federal Fluminense (UFF), além dos professores Luciana Jesus da Costa, Rodrigo de Moraes Brindeiro, Luciana de Barros Arruda Hinds, Davis Fernandes Ferreira, Joaquim Fernando Mendes da Silva, Lúcia Cruz de Sequeira Aguiar Rodrigo Souza e Orlando da Costa Ferreira Junior, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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