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Publicado em: 07/04/2011
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Um novo modelo de cooperativa

Elena Mandarim

 

 Divulgação/ Arte Peixe

    
    Jacira Pires: diferencial da Arte Peixe são produtos 100%
     naturais, com pedaços inteiros de camarão e de peixe 
As mulheres da praia de Atafona, no litoral de São João da Barra, na região norte do estado, não se fizeram de rogadas e aproveitaram muito bem os investimentos do Programa de Organização Produtiva de Comunidades (Produzir), do Ministério de Integração Nacional. “Há quatro anos, os investimentos do programa Produzir chegaram à Atafona, para realizar um trabalho com os homens da região. Já que eles não se interessaram, resolveram investir em nós.” Quem conta a história é Jacira da Penha Pires, presidente da cooperativa Arte Peixe, criada no âmbito do projeto. 

 

Em fevereiro de 2007, cerca de 20 mulheres se uniram para fundar a Arte Peixe, cooperativa com proposta de se tornar uma alternativa rentável para as esposas e filhas de pescadores, complementando a renda familiar. Como conta Jacira, a grande maioria dessas mulheres já realizava informalmente o trabalho de descascar camarão e filetar peixes, com o mesmo objetivo. “Muitas de nós, individualmente, já beneficiávamos o pescado local para aumentar a renda familiar, mas tudo de forma amadora.”

 

Em parceria com o Produzir, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Estado do Rio de Janeiro (Senar) forneceu diversos cursos. Entre eles, os de corporativismo, de boas práticas, de higiene alimentar, de meio ambiente e o de processamento de pescado, que ensinou a fazer dois produtos: linguiça de camarão e hambúrguer de peixe. “Hoje, temos um total de 10 produtos e queremos lançar mais um até o final de 2011”, entusiasma-se a presidente.

                                                                                      

A cooperativa, no entanto, só consegue produzir 500 quilos ao mês. Jacira conta que outro fator limitante é a falta do Selo de Inspeção Estadual (SIE), da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seagro). Trata-se de um controle que garante a qualidade do produto e permite comercializá-lo em estabelecimentos por todo o estado. “Sem o selo, ficamos restritas ao mercado informal de Atafona. Já temos restaurantes interessados nos produtos, inclusive da região metropolitana, que não podem comprar por falta do selo”, relata.

 

Para ampliar tanto a capacidade produtiva quanto a capacidade de atendimento, Jacira, com a ajuda da Fundação Instituto da Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Fiperj), submeteu um projeto ao Edital de Apoio ao Desenvolvimento de Modelos de Inovação Tecnológica Social, da FAPERJ. Entende-se por inovação tecnológica social os processos, produtos ou serviços que promovam a inclusão social em uma determinada localidade, propiciando a melhoria da qualidade de vida daquela população.

 

Contemplado, o grupo está investindo parte dos recursos na compra de maquinários, como despalpadeira, misturador e embutidora. “Acreditamos que, com esses investimentos, nossa produção mensal será de três toneladas. Mas, para isso, precisaremos aumentar também o número de cooperadas para, no mínimo, 60. Já fizemos um cadastro das interessadas, que terão que passar por todos os cursos que fizemos”, aposta a presidente.

 

Outra fração do capital será usada para pagar os gastos do processo de aquisição do SIE. Para cumprir as exigências, a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro) analisará cada produto da cooperativa, para atestar sua qualidade e determinar sua composição nutricional. A água e as condições físicas e de higiene da cooperativa também serão avaliadas. “Sem os recursos da FAPERJ, jamais conseguiríamos arcar com esses gastos. Atender a essas exigências será um passo importantíssimo para conseguirmos o SIE”, acredita Jacira.

 

Toques especiais da Arte Peixe

 

Divulgação/Arte Peixe

         

 Beneficiamento de pescado complementa a renda familiar
 e promove  a inclusão social na região norte fluminense

Jacira conta que os produtos Arte Peixe são muito bem aceitos no mercado local de Atafona. Entre os 10 produtos comercializados, seis se destacam mais: os hambúrgueres de peixe e de camarão, as linguiças de peixe e de camarão, bolinho e quibe de peixe. “Um de nossos diferenciais é preparar os produtos com metade do pescado inteiro e metade processado. Isso garante maior satisfação dos clientes”, acredita a presidente.

 

Se por um lado o objetivo é agradar a clientela, Jacira destaca mais uma preocupação da cooperativa: “Queríamos que nossos produtos tivessem o sabor fresco do peixe e do camarão, por isso eles são 100% naturais, sem adição de qualquer conservante”, relata, lembrando que quando aprenderam as técnicas de processamento de pescado, foi ensinado o uso de substâncias químicas para aumentar a validade da mercadoria. Mas Jacira garante que, mesmo sem conservantes, o prazo de validade é de seis meses, quando armazenados no congelador.

 

Segundo a presidente da cooperativa, a ajuda da prefeitura de São João da Barra, que cedeu o espaço físico para montar as instalações da Arte Peixe, foi de enorme importância. Outro benefício concedido foi o custeio de três reformas no local e a doação de uma câmara fria para armazenamento da produção. “Além disso, a prefeitura colocou a nossa disposição uma parceria com a Universidade Cândido Mendes. Os estudantes prestam assessoria jurídica e administrativa para a nossa cooperativa”, acrescenta. 

 

FAPERJ e Fiperj, segundo Jacira, foram fundamentais para a continuidade da Arte Peixe, assim como o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) que, todo ano, convida a cooperativa para participar da Feira da Agricultura Familiar. “Participar dessas feiras é importante tanto para as nossas vendas quanto para divulgar nossos produtos”, diz. “Cabe destacar ainda o desempenho de todas as cooperadas Arte Peixe, sempre dispostas a melhorar o sistema produtivo da cooperativa”, complementa.

 

Um empreendimento bem-sucedido. Esse rótulo pode se encaixar perfeitamente à Arte Peixe. Segundo Jacira, a cooperativa foi apontada, pelo Ministério da Integração Nacional, como uma das cinco melhores do Brasil. A escolha aconteceu durante a I Mostra de Desenvolvimento Regional, realizada na cidade de Salvador-BA. Para o diretor de Tecnologia da FAPERJ, Rex Nazaré Alves, a "cooperativa é, sem dúvida, um excelente exemplo do acoplamento da atividade tradicional do homem pescador às de sua mulher e filhas, com o aproveitamento de matéria-prima resultante da atividade pesqueira. Com isso, melhoram-se as condições de vida daquelas populações, reduzindo-se o impacto ambiental no escopo da integração". Em um mundo que se afoga em maus exemplos, projetos fundamentados em bons princípios, como a cooperativa Arte Peixe, devem servir de modelo para outras comunidades.

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