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Publicado em: 28/04/2011
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Desigualdade energética também é grande em comunidades de baixa renda

Vilma Homero


 Divulgação / UFF

 

 Os pesquisadores observaram que, dentro de uma mesma favela,
 há uma
 grande desigualdade de renda e de consumo de energia

 

Que o Brasil é um país de grandes desigualdades todo mundo sabe. E pelo que concluiu a pesquisadora Claude Cohen, professora adjunta da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), essa desigualdade também é bastante acentuada no acesso e no consumo de energia. As contas de eletricidade ainda pesam bastante, chegando, em certos casos, a comprometer 12% do orçamento familiar. "Como as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) já são realidade em diversas comunidades e, com elas, a formalização da medição do consumo de energia começa a acontecer em substituição à informalidade dos ‘gatos’, está se formando no horizonte um cenário bastante complicado", analisa a pesquisadora.

Para investigar os determinantes do consumo de energia no setor residencial e seus impactos sobre a economia fluminense, a economista avaliou hábitos de consumo, posse de equipamentos e o impacto das contas de energia sobre o orçamento das famílias, por classe de renda, em dez comunidades fluminenses: foram pesquisados Mangueira; Vidigal; Maré; Caju; Mata Machado, no Alto da Boa Vista; Parque Dois Irmãos, em Curicica; Vila Brasil, em Sulacap; Vila Moretti, em Bangu; Jardim Ocidental, em Nova Iguaçu; Lixão, em Gramacho, na Baixada Fluminense. Junto com a equipe da UFF, o projeto contou com a participação da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), responsável pela pesquisa de campo; do Programa de Planejamento Energético (PPE) do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe/UFRJ), do qual Claude Cohen faz parte como professora colaboradora; e da Light.

Na Mangueira, por exemplo, a favela que, das dez pesquisadas, foi a de maior renda média familiar – de R$ 992, em dados de 2007 –, os 12% destinados às contas de energia – algo em torno dos R$ 114 –, foram considerados pelos pesquisadores como um peso muito alto sobre o orçamento familiar. Da mesma maneira, em Jardim Ocidental, comunidade de Nova Iguaçu, que tem a menor renda média entre as pesquisadas, de R$ 507, o consumo, que em média é de 103 kW/hora/por mês, significa conta de R$ 23 para as famílias que teriam direito ao programa de tarifa social. Para as que não teriam direito ao benefício, as contas variam entre R$ 50 e R$ 100, valores também bastante altos para sua renda.

Mesmo dentro de uma mesma comunidade, as diferenças são significativas. "Estudos anteriores em favelas já haviam mostrado essa disparidade, mas não sabíamos o quanto essa desigualdade era grande. Em Mangueira, a renda média domiciliar – às vezes há mais de um núcleo familiar numa mesma residência – varia desde R$ 8.075 mil até R$ 386", aponta Claude. Essas diferenças são apenas parte do problema. Como a pesquisadora analisa, outros fatores também preocupam.

Na favela do Lixão, que tem a segunda menor renda média familiar, o consumo médio é inversamente alto, chegando a ocupar o segundo lugar no ranking das comunidades que mais gastam energia. Como isso é possível? A resposta é fácil: como lá não existem medidores em 43% das moradias, ali impera o gato e, com ele, os aparelhos de ar-condicionado e o alto consumo. "Como essas famílias estão habituadas a um alto consumo de energia, o que acontecerá quando forem instalados os medidores e a situação for formalizada? Será preciso estudar medidas para ver como fazer essa transição para a formalização e como resolver o problema da enorme distância entre renda baixa e alto consumo", pondera a pesquisadora.

 Divulgação / UFF
 
 Em algumas comunidades, que passaram a contar com    
 UPPs, os medidores começaram a substituir os 'gatos'
Segundo constatou o estudo, a posse de equipamentos é elevada em todas as comunidades: em média, todas as residências possuem geladeira; em quase todas as comunidades, havia mais de uma televisão por residência (1,5 por moradia); e ventiladores são onipresentes, já que a ausência de ventilação natural entre as casas, que em sua grande maioria ficam aglomeradas umas sobre as outras, é praticamente inexistente. Em média, há mais de um por residência (1,12). No caso de ar-condicionado, na Mangueira, de cada cem moradores, em média, 32 tem o aparelho, enquanto a média no Lixão é de 28 moradias em cada cem, um percentual alto, considerando a renda média familiar, que é de R$ 602.

"Em algumas comunidades, já houve troca de lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes, de menor gasto energético. Mas quando o que determina um maior consumo é iluminação e chuveiro, não há como reduzir esses gastos", explica Claude. Tudo isso contrasta com a precariedade de infraestrutura característica das comunidades. "Pelo que vejo, não se oferece ao consumidor meios para um maior controle no consumo. As concessionárias provavelmente já perceberam que esses consumidores continuam gastando muito e que há um grande problema se formando."

Tudo isso é motivo para que Claude esteja procurando ampliar o projeto para também abranger as comunidades que já contam com UPPs. Assim, ela poderá verificar como está acontecendo a transição para a formalização do consumo, com a instalação de medidores, e avaliar esse impacto sobre a renda familiar. Segundo Claude, a desigualdade é um dos problemas mais graves do Brasil. "Até nas favelas a gente encontra esse elevado grau de desigualdade que se vê no país como um todo. Portanto, acho que devemos analisar a questão social, ver se ela se deve a famílias muito numerosas, por exemplo. Também será preciso considerar que o ‘gato’ ameniza a pobreza energética, é também uma maneira de se conter uma situação mais grave. É necessário ter ainda alguma alternativa de consumo para lidar com a questão." Como conclui Claude, várias dessas medidas deverão ser formuladas como políticas públicas para ajudar as famílias a mudar tanto os hábitos de consumo quanto equipamentos.

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