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Publicado em: 12/05/2011
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Projeto conta a história do câncer no Brasil

Danielle Kiffer

      Acervo Casa de Oswaldo Cruz 
     
Nas campanhas iniciais, dos anos 1950,
os primeiros alertas contra o câncer 
"Melhor prevenir do que remediar." O ditado popular pode ser aplicado a uma das doenças mais temidas ainda hoje, o câncer. Como alerta o site do Instituto Nacional do Câncer (Inca), ações de prevenção podem reduzir a mortalidade, melhorar o prognóstico e a qualidade de vida dos doentes. No campo da saúde, essa preocupação em informar para assim estimular a prevenção de certas doenças entre a população pode ser acompanhada ao longo do tempo nas campanhas lançadas por entidades governamentais. Foi o que fez Luiz Antônio Teixeira, pesquisador do Departamento de Pesquisa em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ. Ao desenvolver a pesquisa "O controle do câncer no Brasil na segunda metade do século XX", ele conta a história do das campanhas contra o câncer desde 1940, no contexto da situação político-econômica do País.

A pesquisa nasceu do livro intitulado De doença desconhecida a problema de saúde pública: o Inca e o controle do câncer no Brasil, que o pesquisador escreveu por ocasião dos 70 anos de fundação da Fiocruz. "O título se refere ao desconhecimento das pessoas acerca da doença até a metade do século XX. Muitos se recusavam a pronunciar a palavra câncer, que também acreditavam tratar-se de uma doença de ricos", conta. Ao rever a trajetória do Inca enquanto escrevia o livro, Luiz Antônio resolveu levar os fatos mais interessantes para estudos, pesquisas e análises de outros profissionais. Além dos dados históricos, Luiz e sua equipe estão colecionando as imagens da época, como cartazes e fôlderes, das campanhas realizadas no país naquele período. Futuramente, todo este material será disponibilizado para consulta on-line.

Segundo o pesquisador, a primeira campanha contra o câncer no Brasil foi desenvolvida em 1948, pelo médico Mário Kroeff, o criador, em 1937, da primeira enfermaria especializada em câncer do Rio de Janeiro, que posteriormente se tornaria o Instituto Nacional do Câncer. "Entre 1948 e a década de 1950, Kroeff se dedicou intensamente à tarefa de divulgar e informar sobre a doença. Ele promovia programas de rádio, ministrava palestras, além de organizar exposições com fotos, desenhos, caricaturas e outras ilustrações sobre o tema no Centro do Rio." Luiz Antônio relata que o Mario Kroeff também produziu um filme sobre o assunto, embora o pesquisador ainda não tenha conseguido encontrar a película. O material do médico, assim como fotos suas e de pacientes, e a documentação que acumulou sobre a doença estão sendo reunidos pelo historiador, que conta, inclusive, com a ajuda da família de Mário Kroeff, para uma futura exposição em um espaço para visitação pública.

    Acervo Casa de Oswaldo Cruz 
                 

Nos anos 1980, intensificaram-se
as campanhas voltadas à mulher
 

Depois desse primeiro momento, a propagação das campanhas esteve muito atrelada a acontecimentos políticos. Um exemplo citado por Luiz Antônio aconteceu em 1971. Na ocasião, Richard Nixon, então presidente dos Estados Unidos, havia feito um pronunciamento declarando guerra ao câncer. Dois anos mais tarde, em 1973, o presidente Emílio Garrastazu Médici embarcaria na mesma onda, aparecendo, junto ao ministro da Saúde, na televisão para declarar maiores investimentos para o controle da doença no país. "Podemos perceber que havia naquela época uma crescente demanda por campanhas no país", descreve. Em 1975, no entanto, conforme afirma o pesquisador, o Brasil enfrentou uma grave crise econômica gerada em grande parte pela crise internacional do petróleo, o que fez diminuir consideravelmente as ações na área da saúde.

Luiz Antônio explica que as campanhas, principalmente voltadas para a prevenção do câncer cervical, do câncer de pulmão e contra o tabagismo começaram a ser retomadas na década de 1980. No entanto, somente com o estabelecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) no final da década, essas ações iriam se intensificar com o lançamento da campanha de controle do câncer de colo do útero denominada Viva Mulher. O historiador esclarece que, em 1995, durante a IV Conferência Internacional da Mulher em Beijing, na China, a delegação brasileira era chefiada pela então primeira dama, Ruth Cardoso, que se comprometeu a cuidar da questão do câncer de colo no país. A partir daí, as campanhas contra a doença aos poucos foram se transformando em programas mais amplos e permanentes.

Na opinião de Luiz Antônio, ainda há muito trabalho a ser feito. "Até hoje, muitas mulheres estão morrendo de câncer de colo de útero no Brasil, principalmente na região Norte do país. É o segundo tipo de câncer de maior incidência entre as mulheres no Brasil. Acredito que, com maior divulgação de informações, que levem as mulheres a visitar regularmente o ginecologista e a realizar exames preventivos,poderíamos evitar tantas mortes, pois esse tipo de câncer é lento e de fácil diagnóstico", conclui.

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