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Publicado em: 16/06/2011
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Proteína pode ajudar a recuperar o movimento dos paraplégicos


Débora Motta

                                                                            Divulgação
 
 Regeneração do sistema nervoso: um neurônio
 cresce sobre um substrato de laminina polimerizada


Uma proteína produzida naturalmente pelo corpo pode, no futuro, ser a chave para a recuperação dos movimentos das pessoas paraplégicas. Trata-se da laminina. Ela é a base de uma pesquisa de ponta coordenada pela professora Tatiana Coelho Sampaio, no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB/UFRJ). À frente da equipe do Laboratório de Biologia da Matriz Extracelular, a bióloga vem testando os efeitos da aplicação da laminina em animais paraplégicos – e adianta que, se tudo der certo, a próxima etapa será a realização de testes com a proteína em humanos que perderam os movimentos. Quando injetada diretamente na medula lesionada, a substância mostrou-se capaz de restabelecer a comunicação perdida entre células do sistema nervoso, necessária para a movimentação dos braços e das pernas.

 

“A recuperação dos movimentos ocorre porque os axônios, que são os condutores dos impulsos elétricos do cérebro ao resto do corpo, voltam a crescer e se reconectam. Na paralisia dos membros, essa conexão neuronal é interrompida”, explica Tatiana Sampaio, que foi Jovem Cientista do Nosso Estado da FAPERJ. “A proteína também reduz o processo inflamatório, comum após o trauma no sistema nervoso”, completa. O desenvolvimento desse modelo de tratamento, 100% nacional, começou há cinco anos. Inicialmente, os experimentos foram realizados com ratos. Eles tiveram a medula lesionada durante um procedimento cirúrgico. Depois, uma solução de laminina foi injetada especificamente no local da lesão. Os resultados, verificados a partir de análises microscópicas, comprovaram a regeneração medular. “A substância foi responsável por uma recuperação considerável da função motora perdida, devido ao crescimento dos neurônios adultos, mesmo nos casos em que a medula foi rompida totalmente”, destaca.

 

Ação eficaz em roedores

 

De acordo com a pesquisa, a luta contra o tempo é um fator fundamental para maximizar a eficácia do tratamento com laminina. “Observamos nos experimentos com ratos que quanto mais rápido a proteína for injetada, melhor os resultados. O ideal é aplicar a laminina na fase aguda da lesão, ou seja, pouco tempo depois que a lesão na medula ocorre. Nessa fase aguda, que em ratos vai até dois dias depois da ocorrência do trauma, a aplicação da laminina levou os animais tratados a recuperarem 75% dos movimentos de articulação das patas traseiras, enquanto os animais não tratados permaneceram com menos de 25% desses movimentos”, pondera a bióloga. “Já no caso de aplicações da proteína em ratos muitos dias depois da lesão, o que corresponderia, no caso de humanos, a meses depois do trauma, os resultados não seriam excelentes, mas existem dados que sugerem que eles possam ser bons.”

 

 Divulgação
    

  Comparação entre as medulas de animais
  tratados (LM4) ou não (Bu4) com laminina
  polimerizada oito semanas após a lesão

Passada a etapa de experimentos com ratos, a pesquisadora coordena, há um ano, testes de toxicidade à laminina, realizados em cães de porte médio. “Não temos visto nenhum sinal de toxicidade até agora, nem em ratos nem em cães”, conta. Se essa etapa for aprovada, o próximo passo do estudo será a tão aguardada realização dos testes clínicos em humanos, que podem abrir as portas para o desenvolvimento de um produto para pessoas que perderam os movimentos. “A ideia é que os testes com laminina em humanos sejam realizados, no princípio, em pacientes ainda na fase aguda, isto é, que se tornaram paraplégicos há apenas dez dias”, planeja. O estudo, contemplado pela Fundação por meio do programa de Apoio à Pesquisa (APQ1), teve como desdobramento um artigo publicado no Faseb Journal, uma das mais conceituadas revistas científicas na área.

Descoberta há cerca de 30 anos, a laminina é produzida pelo sistema nervoso, para auxiliar na formação e na regeneração do mesmo. Ela pode ser obtida da placenta humana após o parto – como é o caso da laminina utilizada na pesquisa, que é importada de uma empresa americana. O diferencial para o desenvolvimento do estudo foi a criação, em 2000, no próprio Laboratório de Biologia da Matriz Extracelular, de uma técnica de repolimerização da laminina, já patenteada pela UFRJ. “Na forma comercial, a laminina vem em monômeros, isto é, com as suas moléculas individualizadas. Mas para o tratamento da paraplegia, é preciso que as moléculas estejam polimerizadas, porque é assim que elas funcionam na natureza”, explica a professora, lembrando que a repolimerização desenvolvida no laboratório é um processo fácil e barato. 

A proteína seria uma alternativa ao uso de células-tronco para tentar reverter a paraplegia. Para Tatiana Sampaio, o tratamento com a laminina seria uma opção mais barata, fácil e segura, apesar das células-tronco receberem, atualmente, mais investimentos para pesquisas. “Nossos estudos com a laminina em lesões medulares estão mais avançados do que outros estudos com as células-tronco. A proteína é uma opção mais simples, pois é produzida pelo organismo naturalmente para ajudar no processo de regeneração do sistema nervoso. O que estamos fazendo é apenas imitar a natureza”, afirma. “Já as células-tronco têm uma complexidade maior, o que faz com que seja mais difícil prever seu comportamento após a injeção”, destaca. Também participam da equipe envolvida no projeto o professor João Menezes, do ICB/UFRJ e a aluna de doutorado Karla Menezes.

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