Débora Motta
Fabrício Cruz |
Para opresidente da FGV, Carlos Ivan Leal,a pesquisa deve atender as demandas do mercado |
Durante a abertura do evento, organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela FAPERJ, o presidente da ABC, Jacob Palis, destacou a importância da aproximação entre os setores acadêmico e empresarial para incrementar o conhecimento tecnológico e o desenvolvimento de produtos inovadores. "A ciência brasileira é muito jovem. Há 40 anos tínhamos poucos cientistas e pouca representatividade na comunidade internacional. Hoje, esse quadro mudou, mas temos que valorizar mais o cientista inventor, por meio da aproximação com o setor produtivo", disse. O presidente da Fundação, Ruy Garcia Marques, engrossou o coro, reforçando o comprometimento da agência de fomento estadual com a inovação. "O
próprio nome escolhido para esse simpósio, Academia-Empresa,é, justamente,o grande desafio que a FAPERJ deve enfrentar", afirmou.
Cases de sucesso
O presidente da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carlos Ivan Leal, ressaltou que um dos desafios para consolidar a inovação científica e tecnológica no Brasil é a falta de objetividade. Para ele, a pesquisa brasileira deve simplificar o formalismo acadêmico e se preocupar mais em atender as demandas do mercado, propondo aplicações práticas. "Nunca haverá desenvolvimento maciço de tecnologia aplicada se a demanda não casar com a oferta. Muitas vezes, a academia investe em inovações sofisticadas, mas que são desnecessárias, e deixa de lado as pequenas inovações, mais simples, porém mais necessárias para o mercado", disse. Ele lembrou que, para competir com outros países emergentes, como a China e a Coreia, o País precisa gerir a inovação tecnológica com mais eficácia. "O Brasil precisa de mais tecnologia de processos."
O físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), compartilhou as experiências da Coppe, que tradicionalmente realiza parcerias com o setor produtivo por meio da Fundação Coppetec – instituição de direito privado, sem fins lucrativos, criada pela Coppe para apoiar a captação de recursos para projetos de desenvolvimento tecnológico, de pesquisa, ensino e extensão. Entre as empresas parceiras, estão a Petrobras, Eletrobrás, Light, Vale e Braskem. Apesar do know-how da Coppe no desenvolvimento de produtos tecnológicos em vários segmentos, com destaque para o setor de petróleo e gás, Pinguelli considera que ainda predomina o distanciamento entre a produção acadêmica e as empresas no cenário nacional. "Faltam empreendedores dispostos a investir em inovação."
O diretor de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Roberto Vermulm, disse que a inovação – definida como a introdução de um novo produto ou processo produtivo na realidade econômica-social – resulta de uma relação de troca entre academia e empresas. "O mercado também mostra as oportunidades para o desenvolvimento da C&T, além das universidades e centros de pesquisa. O conhecimento acadêmico isolado não gera, automaticamente, uma economia mais competitiva", ponderou, lembrando que muitas empresas apostam no desenvolvimento científico e, inclusive, empregam cientistas. Vermulm ressaltou que, segundo a pesquisa PINTEC, do IBGE, as empresas brasileiras inovam pouco. "A taxa de inovação no setor industrial foi de apenas 38,1%, entre 2006 e 2008. Na Alemanha, essa taxa foi de mais de 60%."
A palestra do cientista chefe da IBM Research Division no Brasil, Fábio Gandour, apresentou a inovação como um ponto chave para definir o posicionamento internacional do Brasil. Para ele, o modelo que deve ser adotado é o da "ciência como negócio". "Como doutrina, a ciência praticada tradicionalmente nas universidades justifica a si mesmo. Mas a ciência como negócio tem que produzir impactos positivos para as empresas". O laboratório de pesquisa da IBM instalado em São Paulo (o nono da companhia no mundo) pretende estabelecer linhas de pesquisa colaborativa com diversas universidades e centros de pesquisa, para desenvolver os temas: recursos naturais, com ênfase em óleo e gás; sistemas humanos, com destaque para a realização de mega eventos; a microeletrônica e a ciência de serviços. Os resultados devem surgir a longo prazo. "Ciência não é corrida de 100 metros rasos, é uma maratona em que vence a resistência e a persistência", brincou.
Já o gerente da Informação Técnica e Propriedade Intelectual do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes/Petrobras), Fernando Baratelli Jr., contou que os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento da empresa, de 2008 a 2010, foram de cerca de 872 milhões de dólares. A descoberta do pré-sal veio aumentar a necessidade de investimentos em inovação tecnológica, que sempre foi uma premissa da companhia. "Os novos poços trarão uma mudança de patamar tecnológico, com processos como perfuração a laser e o emprego de nanomateriais e nanopartículas", explicou. De acordo com Baratelli, a inovação da Petrobras, que envolve parcerias com a academia e com fornecedores, exige planejamento. "A inovação se faz com três ingredientes: desafios bem estabelecidos, ideias para suplantar esses desafios e recursos para testar essas idéias", conclui.
Também foram palestrantes no simpósio Academia-Empresa o diretor-geral do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel/Eletrobrás), Albert de Melo; o diretor científico do Instituto Vale no Pará, Luiz Carlos Silveira; o presidente do Grupo Light, Jerson Kelman; o presidente do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), João Jornada; e o gerente de Inovação e Tecnologia da Braskem, Paulo L. de Andrade Coutinho.
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