Vinicius Zepeda
Fotos: Vinicius Zepeda |
Os produtos feitos artesanalmente pelo grupo Cheiro de Vida estão ganhando ares profissionais e novos espaços para venda |
Coordenadora do projeto, professora e pesquisadora da Unisuam, Mariza Almeida explica que a ideia do projeto foi transformar os conhecimentos da cultura popular num empreendimento solidário e gerador de renda para a população local. Como grande parte dos moradores dessas comunidades veio de áreas rurais, já tinha também conhecimento de cultivo e participava da horta comunitária – em espaço cedido nos Cieps Samora Machel e Elis Regina, na comunidade da Nova Holanda – gerida desde 2002 pelo Grupo Asas.
"Em 2006, a diretora da ONG, Jussara Oliveira, ex-aluna de Serviço Social da Unisuam e moradora da Maré, nos procurou propondo uma parceria que melhorasse o trabalho que eles já vinham desenvolvendo na comunidade", conta Mariza. Como explica a pesquisadora, as participantes do projeto recebem capacitação profissional nas áreas de empreendedorismo; técnicas de cultivo e preparo de plantas aromáticas; técnicas de cultivo e preparo de hortaliças orgânicas; gestão; e técnicas de venda.
Com a ajuda de uma aluna de mestrado em Design da universidade, foram estudados os formatos mais atraentes para os sachês, foi feita a escolha dos tecidos e estampas mais adequados e criados moldes, para uniformizá-los. "Isso significou passar de uma produção mais amadora para outra mais padronizada, com maior apelo para comercialização", explica Mariza. Ela destaca ainda a inserção das participantes do grupo numa atividade verdadeiramente voltada para geração de renda. "Até porque quase todas elas têm mais de 50 anos, muitas são aposentadas e outras foram donas-de-casa a vida toda, sem nunca ter trabalhado fora. Poucas ganharam dinheiro por conta própria", conta a pesquisadora.
Das vendas ocasionais, na própria comunidade, o grupo passou a contar com oportunidade regular de comercialização de produtos no espaço e nos eventos da universidade, onde ficam expostos para os mais de 10 mil estudantes. "Agora, estamos em contato com a ong Asta, que comercializa produtos de vários grupos semelhantes, para estudar a viabilidade de também vender os do Cheiro de Vida. Isso poderá significar um avanço ainda maior nas vendas do grupo", anima-se Mariza.
Projeto ajudou aposentada a sair da depressão e a recuperar autoestima
Formação em empreendorismo e aulas de português: as reuniões do grupo resultam em maior autoestima e profissionalismo |
No grupo Cheiro de Vida, ela toma conta de toda a parte administrativa, controla o estoque de material, a produção de peças e mercadorias compradas e ainda por comprar. "Ela é bastante organizada. Desde que assumiu essas funções, nada escapa do seu controle. Tudo é catalogado e organizado em planilhas, no livro caixa e com isso, temos maior controle sobre o que produzimos", explica Mariza.
Já Maria dos Santos Tavares, 49 anos, conhecida como Cida entre as colegas, é uma espécie de motor e a mais entusiasmada das participantes do projeto. Vendedora de salgados e inquieta desde pequena, Cida contagia a todos com sua alegria, divulga o projeto na comunidade, corre atrás de parcerias com os comerciantes locais. "Fechei parceria com uma empresa de confecção local que nos fornece tecidos. Com eles, fazemos fuxico, bonecas e flores aplicadas para as bolsas que produzimos", conta Cida. Como ela conta, o trabalho, que as reúne nas tardes das terças e quintas-feiras, termina sendo tão agradável que muitas vezes elas esquecem a hora de voltar para casa. "Estimulo as colegas a não desistir, a perseverar. Não podemos nos abater diante da primeira dificuldade. Juntas, temos força para conseguir tudo", garante.
A parceria entre a horta comunitária e os pesquisadores da Unisuam no projeto Cheiro de Vida já vem dando novos frutos. O primeiro deles será diversificar a produção, passando também a criar sacolas de juta e aventais de algodão. "Será também uma forma de ampliar as possibilidades de venda", diz Mariza. Outro fruto do projeto será o desenvolvimento de tecnologias para a extração de óleos essenciais das plantas cultivadas na horta para uso no preparo de sabonetes artesanais. Coordenado pela professora e pesquisadora da Unisuam Kátia Eliane Avelar, o projeto conta com recursos do edital Apoio a Projetos de Extensão da FAPERJ. "Por enquanto estamos realizando o trabalho em pequena escala nos laboratórios de Química da universidade. Mas a aquisição de uma máquina extratora permitirá aumentar bastante nossa produção", explica Kátia.
O terceiro resultado do projeto é o Letra-guia, que consiste em aulas de português e literatura para as participantes do Cheiro de Vida. Esse tipo de atividade foi introduzida quando os pesquisadores perceberam que melhorar a habilidade de escrita e leitura seria desenvolver uma ferramenta fundamental para a capacidade de empreendedorismo do grupo. "Ensinamos a escreverem cartas, a fazerem balancetes, a se comunicarem melhor para que, no futuro, possam ser independentes e, quem sabe, até criarem uma cooperativa ou associação", planeja Maria Geralda de Miranda, que além de coordenadora do projeto é também coordenadora do mestrado profissional em Desenvolvimento Local, da Unisuam. Para Mariza, este tem sido um aspecto importante não só para o crescimento profissional do grupo, mas um ganho pessoal ainda mais considerável para cada uma das mulheres do Cheiro de Vida.
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