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Publicado em: 21/07/2011
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Projeto hispano-brasileiro cria telescópios para mapeamento do céu em 3D


Débora Motta

 

                                                                              Divulgação
 
 Maquete simula como será a disposição dos dois telescópios
 robóticos que estão em construção em Teruel, na Espanha
Uma iniciativa internacional de grande porte, que envolve a cooperação científica entre Brasil e Espanha, pode abrir caminhos nunca antes explorados para a pesquisa em astronomia. O projeto J-PAS (Javalambre Physics of the Accelerating Universe Astrophysical Survey), lançado inicialmente pelo Centro de Estudo de Física do Cosmos de Aragon (Cefca), sob coordenação do professor Narciso Benitez, está na fase final da construção de dois telescópios robóticos no Pico de Buitre, em Teruel, a 1.957 metros de altura. Desta localidade da Espanha – considerada uma das regiões mais escuras da Europa, o que facilita a observação celeste –, os equipamentos vão realizar um trabalho pioneiro: o minucioso mapeamento de todo o céu do hemisfério Norte.

 

“Os telescópios vão permitir a observação de todos os objetos astronômicos, desde asteroides, passando por supernovas, até galáxias e aglomerados de galáxias, com informação espectroscópica boa o suficiente para produzir imagens tridimensionais com uma precisão sem precedentes para levantamentos celestes fotométricos”, destaca o astrônomo e pesquisador Renato Dupke, da Coordenação de Astronomia e Astrofísica do Observatório Nacional. Ele é o coordenador da participação brasileira no J-PAS, que ganhou por aqui o nome de projeto PAU-BRASIL – com pesquisadores de várias instituições brasileiras, mas com grande ênfase nos pesquisadores do Rio de Janeiro, de instituições como o Observatório Nacional, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).

 

Os dois telescópios do sistema em Teruel devem entrar em funcionamento até 2013. O maior, com 2,5 metros de diâmetro, fará o levantamento principal. O outro, de 80 centímetros, vai servir, entre outras coisas, para calibrar o primeiro, fazer testes de softwares e também para complementação dos inúmeros projetos paralelos dos diversos grupos de trabalho do levantamento, como os de asteroides e de supernovas. “Depois que entrarem em funcionamento, os telescópios devem se tornar instrumentos para a observação de mais de 300 milhões de galáxias, durante os quatro anos de mapeamento do céu”, prevê. 

 

O grau de riqueza de detalhes fornecidos pelas imagens dos telescópios, que vão captar objetos astronômicos a uma distância de mais de oito bilhões de anos-luz – um ano-luz equivale a cerca de dez trilhões de quilômetros –, com boa resolução espectroscópica, vai ajudar os cientistas a desvendar os mistérios da energia escura, considerada a responsável pela expansão do universo. “Esse levantamento celeste constitui a próxima geração dos grandes levantamentos fotométricos atuais, como o Dark Energy Survey, e abrirá o caminho para os futuros levantamentos espectroscópicos”, afirma o pesquisador.
 

 Divulgação
     
Segundo o pesquisador Renato Dupke, o  
projeto será um marco para a astronomia
 
                        
De acordo com Dupke, os astrônomos brasileiros terão uma participação integral no projeto. “Somos responsáveis pela construção e gerenciamento da câmera do telescópio principal, que será completamente dedicado ao projeto PAU-BRASIL. Ela terá um sistema inédito de 56 filtros, número dez vezes maior que o utilizado nos levantamentos celestes fométricos atuais”, ressalta. Nunca se tinha usado tantos filtros juntos em um levantamento celeste. “Este sistema vai oferecer imagens de mais de 1,2 gigabytes por exposição, com um total de mais de três petabytes acumulados no fim do levantamento, bem superiores às imagens dos telescópios tradicionais. O Brasil também vai participar do gerenciamento dos dados a serem coletados pelos telescópios, levado a cabo pela Cefca. Além disso, já somos 40% entre os pesquisadores líderes dos grupos de trabalho”, conta.

 

Para o pesquisador, o projeto será um marco para a astronomia mundial. “Será o mais competitivo para os estudos cosmológicos da década. Isso porque a alta tecnologia e a técnica inovadora dos telescópios trarão excelentes investimentos em termos de ciência para cada dólar investido”, justifica Dupke. Devido à versatilidade dos telescópios, todas as áreas da astronomia do Brasil serão beneficiadas e, em particular, do estado do Rio de Janeiro, onde a maior parte das pesquisas em cosmologia é realizada. O pesquisador enumera as vantagens. “A participação brasileira no uso dos telescópios será garantida por pelo menos sete anos; pesquisadores do Brasil e da Espanha terão prioridade na liberação de dados; não haverá custos de manutenção do telescópio para o Brasil; e o know-how tecnológico e informacional será transferido para as instituições nacionais envolvidas.”

 

Até o momento, o projeto PAU-BRASIL recebeu, no Brasil, um total de R$ 6,5 milhões. A FAPERJ repassou recursos do Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex) para a construção de uma estrutura específica da câmera do telescópio principal, que será resfriada em escala criogênica, isto é, que vai trabalhar sob temperaturas extremamente baixas, a partir de 200C negativos, para reduzir o ruído térmico nas observações. Outras agências de fomento também contribuem para a iniciativa brasileira, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), além do próprio Observatório Nacional. “Com o apoio de diversas agências e instituições, o PAU-BRASIL terá grande impacto científico, acadêmico, educacional e tecnológico, aumentando significantemente a visibilidade nacional e internacional para a comunidade astronômica brasileira”, conclui Dupke.

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