Vilma Homero
Divulgação / Coppe-UFRJ |
De pequenas dimensões, o pitot fornece dados das condições atmosféricas externas do avião |
Uma das propostas do grupo é aperfeiçoar o pitot convencional, tese de doutorado de José Roberto Brito Souza, da Coppe. “Já temos compreensão do funcionamento do equipamento convencional e dos motivos que o levam a falhar sob determinadas condições negativas. Mas para tirar patente do projeto, será preciso avançar mais para garantir inovações ao produto”, fala Brito Souza. A equipe conta ainda com Juliana Braga Rodrigues Loureiro, co-orientadora, e Átila Pantaleão Silva Freire, chefe do Núcleo Interdisciplinar de
Dinâmica dos Fluidos, grupo que se empenha na futura montagem de um túnel de vento de baixa temperatura, na UFRJ, para testes com os pitots.
Isso, no entanto, pode não ser o suficiente. Condições de grande umidade, como tempestades e nuvens cumulus nimbus, carregadas de gotículas de água, podem alterar a situação de temperatura. O que significa que, mesmo em altitudes mais baixas, a temperatura pode baixar ainda mais rapidamente. "Navegar durante um tempo mais prolongado entre nuvens cumulus nimbus, sempre com grande umidade, pode comprometer o funcionamento do sistema de aquecimento. Em geral, os pilotos são orientados a evitar esse tipo de nuvens", explica Cotta.
Para garantir alternativas de maior segurança às condições de voo, Cotta e equipe estão estudando várias modificações no modelo atual de pitot. Uma delas é sua produção com material superhidrofóbico. Em outras palavras, um tipo de liga metálica que repele água e o gelo que se forma em altitude. "Os atuais pitots são certificados para suportar temperaturas até -40C. Mas no dia do acidente com o avião da Air France, estima-se que a temperatura tenha atingido -50C", fala Cotta.
Divulgação / Coppe-UFRJ |
No túnel de vento do Inmetro, o pitot foi submetido a testes para analisar seu funcionamento sob diferentes condições |
"O tipo de pitot em uso no voo 447 foi banido, substituído por modelos americanos, mais robustos e de aquecimento mais intenso. O único problema é que esses modelos consomem mais combustível do motor", explica Átila da Silva Freire, integrante da equipe liderada por Cotta. É motivo para uma outra proposta: a de otimizar a necessidade de aquecimento do pitot de acordo com as condições atmosféricas externas. Ou seja, quanto menor a temperatura externa, mais intensamente o sistema de aquecimento seria acionado.
"Utilizando microssensores calorimétricos, instalados pelo corpo da aeronave, poderemos medir as diferenças de velocidade nos diversos pontos do avião", diz Cotta. Por serem bem pequenos, esses microssensores exigem menor potência para aquecimento, o que quer dizer um menor custo de energia. "Além disso, eles podem ser instalados em áreas que já são normalmente aquecidas em uma aeronave, como as asas, protegidas para evitar a formação de gelo. Dessa forma, uma rede de microssensores permitiria ao piloto saber em detalhes o que acontece em todo o avião, permitindo um maior controle do manejo da aeronave e melhor qualidade do voo, principalmente em áreas de turbulência."
No caso de desenvolver novos modelos de pitot, a equipe quer primeiro conhecer seu funcionamento detalhadamente. Para isso, o grupo vem usando a aeronave A4-Skyawk, da Marinha, e o túnel de vento aerodinâmico do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (InMetro), em Xerém. "Queremos dominar o conhecimento do comportamento térmico do pitot, quando ele é submetido a variações de temperatura e escoamento de ar em velocidades subsônicas e trans-sônicas. Nesse sentido, estamos desenvolvendo em software específico que analisa esse comportamento do pitot", explica José Roberto Brito Souza, também participante da equipe. Seu projeto tem como objetivo estudar teórica e experimentalmente o problema de transferência de calor associada com o comportamento térmico de um tubo de pitot aeronáutico aquecido, seja em túnel de vento, seja em voo. "A análise experimental envolveu a utilização de um sistema de PIV (Particles imagery velocimetry) para identificar o campo de velocidade em torno da sonda de pitot, o uso de um sistema de termografia infravermelha para medir o campo de temperatura na superfície da sonda, e a aeronave da Marinha", explica José Roberto.
Ao mesmo tempo, como não há no país túnel de vento com formação de gelo em que se possa testar condições de voo mais severas, o grupo está desenvolvendo seu próprio túnel. "Trata-se da construção de um túnel de vento criogênico, que será o primeiro do gênero no Brasil, para possibilitar a pesquisa do comportamento de sensores de velocidade quando submetidos a escoamentos de ar a baixas temperaturas. Isso certamente é mais prático, barato e seguro do que enviar uma aeronave de pesquisa, para voar em condições meteorológicas adversas", explica Átila.
De uma coisa, o grupo tem certeza. Com o desenvolvimento desses projetos, que ainda têm mais dois ou três anos pela frente, a equipe sabe que, além de estar formando um laboratório de excelência sobre o tema, certamente garantirá soluções para voos mais seguros.
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