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Publicado em: 12/12/2013
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Ética: para ampliar o debate de uma questão sempre atual

Vilma Homero

 

 Reprodução

 
      No site, vídeos, aulas e entrevistas discutem o tema
Pouco depois das manifestações que surpreenderam o país em junho – e, entre várias reivindicações, criticavam a conduta e os hábitos de políticos –, o senador Lobão Filho, relator do projeto de alteração do Regimento Interno do Senado, resolveu retirar do documento a palavra "ética" por julgar que, por ser "subjetiva, poderia suscitar perigosas interpretações". O episódio foi um dos que serviram como tema de análise do Era, núcleo criado justamente para discutir questões que envolvem ética.

Era é a sigla para Ética e Realidade Atual, grupo multidisciplinar que reúne professores e alunos de Filosofia, Direito e Administração da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), assim como pesquisadores de outras áreas e instituições. A equipe, que conta com um site na Internet, vem sendo procurada por um número crescente de empresas, órgãos governamentais e instituições diversas, mostrando que, ao contrário do que imagina o senador Lobão, ética é uma das preocupações cada vez mais presentes atualmente na sociedade. "Temos sido bastante procurados para orientação, para contribuirmos para a criação de códigos de ética e para a formulação de critérios norteadores de conduta. E essas demandas vêm de diversas áreas", comenta o coordenador do Era, o filósofo Danilo Marcondes de Souza Filho, professor da PUC-Rio.

As questões em pauta são muitas. Entre as preocupações para as quais os pesquisadores do Era são chamados a contribuir estão o papel da liderança, assédio moral, como respeitar as diferenças e vários outros temas recorrentes no cotidiano atual. "Sobre liderança, por exemplo, algumas empresas e instituições nos procuram para orientação. É importante se formar um consenso, um modelo, a respeito. Porque o que muitas chefias confundem é que liderança não é obediência cega, nem funciona apenas como imposição de cima para baixo. Um líder depende mais de reconhecimento do que de apenas ter sido designado", explica Marcondes. Nesse sentido, o Era desenvolve dinâmica com o pessoal de RH da empresa, mostrando o que pode não estar funcionando a longo prazo. "O principal ganho desse processo é não criar funcionários dependentes, mas formar pessoal mais preparado."

Nas web aulas que fazem parte do site, um dos estudos de caso que ilustram situações comuns nas relações profissionais é o de Victor e Andréia. "Victor, o chefe, nunca parecia estar satisfeito e manifestava permanentemente esse descontentamento a Andréia. Certa manhã, Victor chamou Andréia em sua sala e a repreendeu duramente por entender que ela havia elaborado muito mal uma informação, por não ter colocado a numeração das páginas num relatório. Ela perguntou se o resto estava bom e ele simplesmente respondeu que ainda não tinha lido. Andréia continuou a chegar na hora, mas não ficava mais depois de seu horário. Perdera o respeito que antes nutria pelo chefe." Na análise da situação, os especialistas avaliam que, sufocado pelas exigências de uma nova função, Victor não conseguiu balancear a autoridade formal e informal e tentou exigir de Andréia que fizesse muito mais do que o esperado, caindo no mal uso da autoridade formal. Abusou de seu poder e a maltratou psicologicamente, demonstrando não ter nenhuma consideração, nem apreço pelas circunstâncias que envolviam a vida de sua colaboradora, que agora parecia mais feliz em sua vida pessoal. Isso não só repercutia em Andréia mas em toda a equipe."

 Divulgação
  
 Danilo Marcondes  é    
  coordenador do Era 
   
Ao contrário dos temores do senador com relação à palavra ética, diversas entidades de classe procuram exatamente pautar o comportamento de seus profissionais por um código de normas de conduta. E, para isso, muitas delas pedem a ajuda dos pesquisadores do Era. "Claro que a palavra ‘ética’ tem elementos subjetivos. Por isso mesmo há que procurar o consenso e a partir daí elaborar um código de normas que contemplem as possíveis situações daquele cotidiano profissional", explica Marcondes. Segundo o coordenador, a atitude do senador, e o fato de os códigos nem sempre serem devidamente respeitados reflete um traço cultural. "Mostra um certo conservadorismo, a dificuldade de nossa cultura em respeitar normas. Isso também é uma situação que não se reverte do dia para a noite; pelo contrário, demanda tempo, educação e muita discussão sobre essas questões. Por outro lado, há muita gente preocupada com a ética e em ampliar esse debate."

Recorrendo a Platão, Marcondes acrescenta que se tem que pensar um ideal de sociedade e a partir daí ver o que realmente queremos. "A ética sempre parte de preocupações pessoais da vida concreta. Se a prática cotidiana de um grupo se mostra insatisfatória, há que buscar a convergência de comportamentos aceitáveis", afirma. Tudo isso está vinculado a um todo. As decisões dos políticos se refletem sobre a vida das pessoas. "Por isso é tão importante investir em educação e ampliar o debate", esclarece.

Não é por outro motivo que diversas escolas têm se preocupado com a questão. Em outras palavras, ética é algo que se aprende desde cedo, e também na escola. "Nosso grupo contribuiu também com o projeto Junior Achievement. Trabalhamos com crianças para despertar nelas a consciência do coletivo e assim formar adultos melhores. É um processo de formação", acrescenta.

Além de demandas pontuais, o Era realiza ainda seminários e workshops. O tema assédio moral, por exemplo, foi objeto de evento na PUC-Rio e na Universidade Católica do Porto, em Portugal. "É um assunto bastante frequente e, como tal, uma preocupação constante entre vários grupos, já que é uma experiência por que passam muitos profissionais. Então, discutimos desde os aspectos da legislação aos aspectos psicológicos. Em Portugal, a legislação está pouco desenvolvida nesse campo, daí o interesse na formação de grupos que debatam e contribuam para a formulação de leis."

Segundo Marcondes, o assunto também é preocupação de várias empresas portuguesas, que para inibir tais práticas estão formulando códigos de ética e conduta. "É preciso saber como agir nessas situações e também que haja nas empresas um canal para onde os casos possam ser encaminhados, uma instância preparada para lidar com essas ocorrências." No Rio, a equipe do Era foi além, oferecendo oficinas a profissionais de recursos humanos de grupos de empreendedores. Além de oficinas, palestras e eventos diversos, o site do Era também disponibiliza uma série de aulas gravadas e web aulas sobre o tema. "Cada vez mais, ética precisa ser um assunto na ordem do dia", conclui.

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