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Publicado em: 26/08/2002 | Atualizado em: 29/03/2022
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Entrevista: Roberto Menescal

Entrevista: Roberto Menescal

Roberto Menescal, hoje sessentão, com cabelos e barba brancos, é compositor, músico e produtor de discos. Ele foi um dos precursores da bossa nova e ainda lança novos talentos influenciados por João Gilberto. Em seu estúdio, na Barra da Tijuca, ele recebeu a equipe do FAPERJ 2000 para falar dos caminhos da bossa nova.

Você foi um dos precursores da bossa nova. Como foram seus primeiros momentos e qual a explicação para a origem desse nome?
Menescal:
A princípio nós não sabíamos que estávamos fazendo algo novo. Nós achávamos que estávamos fazendo música para uma juventude que não tinha sua música própria. O nome bossa nova surgiu num show que fizemos na Hebráica, a convite de Silvinha Telles, que era a única profissional do grupo. Chegamos lá para acompanhá-la e havia um cartaz dizendo: “Hoje Silvinha Telles e o Grupo Bossa Nova”. Eu achei que era Silvinha Telles, nós e mais um grupo que tinha esse nome. Ao entrar eu perguntei: “quem é esse grupo Bossa Nova?”. Ela então respondeu: “São vocês, eu não sabia o nome de vocês então eu botei Grupo Bossa Nova”. Assim nasceu o nome que adotamos.

Num determinado momento, a bossa nova se divide entre os que alguns chamam de puristas e os que seguiram o caminho da música de protesto. Que conseqüências essa divisão teve para a bossa nova?
Menescal:
Primeiro a gente tem que lembrar que nós éramos, e eu me incluo nisso, doces alienados. A gente só sabia o que acontecia da Avenida Atlântica para o mar. Fora disso, não sabíamos mais nada. Então, a música de protesto veio informar a gente que existia o nordeste musical e que existiam problemas sociais no Brasil, que desconhecíamos na época.

“Garota de Ipanema” é uma das músicas mais tocadas no mundo inteiro. Isso se deve a Frank Sinatra?
Menescal:
Acho que isso se deve ao gênio do Jobim. Ele é fora de série; o mestre de todos nós e, antes do Frank Sinatra, essa música já tinha perto de 800 gravações nos Estados Unidos. O Sinatra ajudou muito, botou para 80 mil, mas antes disso ela já caminhava com pernas próprias.

Fale um pouco do concerto no Carnegie Hall daquele 21 de novembro de 1962.
Menescal:
Eu não sabia nem o que era Carnegie Hall. Quando o Tom me chamou para participar, eu disse que não podia porque tinha que ir a Cabo Frio pescar. Ele me disse que a turma toda estaria lá e eu retruquei que amigos meus contavam comigo, que havia um barco me esperando. Ele disse para eu adiar a pescaria porque seria muito legal estarmos no Carnegie Hall. Fui, porque a turma ia, não sabia o que era. Chegamos a Nova Iorque e passamos uma semana lá antes do concerto. Então saí pelo mundo; eu não conhecia Nova Iorque e quando entrei no teatro foi que eu entendi o que era. Para mim foi um problema muito grande, porque eu nunca fui, nem sou cantor. Sou compositor e músico. Mas eu não levei nem banda, nem artista para cantar. Então eu tive que cantar e acabei estreando como cantor no Carnegie Hall. Ninguém estreou no Carnegie Hall. Mas também a minha carreira de cantor acabou lá. Aquilo foi na verdade o estopim da bossa nova para o mundo.

Há toda uma nova geração de bossa-novistas, como a filha de João Gilberto, Bebel, que faz enorme sucesso no exterior. A bossa nova voltou ou nunca deixou de ser?
Menescal:
A Nara Leão tinha uma explicação para a bossa nova: “ela é como uma mola espiral, vem, dá uma volta e passa no mesmo ponto”. Só que cada vez ela passa numa outra dimensão. Passa mais alto, mais alto, mais alto. Alto não quer dizer melhor. Mas passa em outra forma. A Bebel fez um disco muito interessante. Ela vem com a influência da bossa nova e, ao mesmo tempo, com as coisas da sua geração dela. Ela está mesclando as coisas como nós um dia mesclamos.

Fale um pouco de Nara.
Menescal:
Nara Leão tinha 12 anos quando eu a conheci. Eu estava fazendo 15. Apesar de tão nova, foi Nara quem me mostrou o que era o jazz. Quando a bossa nova nasceu, ela foi uma espécie de musa e secretária, porque era rápida e escrevia bem. Mas na hora de irmos para o palco, nós a segurávamos, não queríamos expor a nossa irmãzinha. Então ela sempre ficou num segundo plano profissional. Aí começaram a surgir Silvinha Telles e Claudete Soares e, na hora em que a coisa tomou vulto, ela foi descobrir outras coisas. Quando a bossa nova estorou Nara subiu o morro, foi buscar Zé Ketti e Cartola. A Nara sempre andou na contra-mão. Quando houve aquela cisão da jovem guarda com a MPB, a Nara foi cantar Roberto e Erasmo. Fez o disco “Que Tudo o Mais Vá Pro Inferno”. No final da vida, ela veio cantar bossa nova, quando não se cantava mais bossa nova no Brasil.

Como se explica que a bossa nova continua sendo o grande produto de exportação do Brasil?
Menescal:
Talvez porque tenhamos feito uma música com influência do jazz, que não é uma música americana, mas do mundo. Todo bom músico toca jazz, seja onde for. E a bossa nova entrou nessa coisa paralela. Ela sofreu influência do jazz e trouxe para o jazz o ritmo mais sincopado.

Que lugar a bossa nova ocupa hoje em meio a tantos novos gêneros musicais?
Menescal:
Eu não sei, porque na verdade não tenho mais rádio no carro, só toca fita A mídia anda numa direção e eu ando na mesma direção, mas paralelo. Se a gente começar a pensar na mídia, a gente vai ficar maluco, porque ela não se interessa por uma música um pouco mais cuidada, seja lá de quem for. A mídia só se interessa por isso, quando entra numa novela como a “Laços de Família”, que tinha o Samba de Verão, do Marcos Valle, Corcovado, do Tom; então essas músicas passam para o primeiro lugar. Isso mostra que o povo não é burro; jogam informações burras para o povo e ele assimila. Mas na hora que você joga também informação legal, ele assimila. Há anos e anos que não se vende um disco de novela, como vendeu esse, com um milhão de cópias. Está provado que o povo não é burro.


 

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