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Publicado em: 21/05/2015
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Uma armadilha contra mosquitos

Elena Mandarim

O pesquisador Adriano Rodrigues de Paula
mostra a armadilha de PET transparente

De acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde (MS), só neste ano de 2015, cerca de meio milhão de novos casos de dengue foram notificados em todo o Brasil. Isso significa que, nos primeiros meses do ano, houve em torno de 200 registros da doença, por hora, o que representa um aumento de 240% no número de casos em relação ao mesmo período do ano passado. E não havendo, por ora, vacina, a melhor profilaxia contra as recorrentes epidemias de dengue ainda é combater o vetor – o mosquito Aedes aegypti – seja na forma adulta ou na fase de larvas. Para isso, uma equipe da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), coordenada pelo biólogo e pesquisador Adriano Rodrigues de Paula e supervisionada pelo pesquisador Richard Ian Samuels, desenvolveu um método simples, de baixo custo e bastante eficaz: uma nova armadilha que, somada a uma forma biológica de controle, promete ajudar a conter o número de mosquitos transmissores da dengue.

Segundo o biólogo, o projeto teve início ao se observar que o fungo da espécie Metarhizium anisopliae, encontrado na natureza, apresenta patogenicidade e virulência para vários tipos de insetos. A ideia, então, foi verificar se o fungo também seria patogênico para o mosquito da dengue. “A partir de 2005, começamos uma série de experimentos em laboratório, que nos fizeram chegar a determinadas formulações, preparadas com o fungo, que se mostraram 100% letais tanto para larvas quanto para mosquitos adultos”, entusiasma-se Adriano. A partir daí, os pesquisadores começaram a pensar como poderiam usar esse dado para combater o vetor da dengue. “Como já sabíamos que o mosquito A. aegypti é atraído por lugares escuros e superfícies pretas, resolvemos unir as duas informações e desenvolvemos a armadilha, que está sendo patenteada”, comemora o pesquisador. Ele destaca que a grande vantagem dessa armadilha é ser feita com materiais baratos. Além disso, o fungo só é tóxico para os mosquitos, diferente de outros métodos que usam inseticidas sintéticos e podem gerar problemas para os seres humanos.

Com a armadilha instalada, moradores relatam
a diminuição do incômodo das picadas de mosquito

A engenhoca é feita com garrafa PET transparente, cortada na frente, que traz pendurado no  interior um pano preto embebido com o tal fungo. Esse pano preto atrai os mosquitos e o fungo age naturalmente como inseticida biológico. Contemplado no edital de Apoio ao Estudo de Doenças Reemergentes e Negligenciadas, da FAPERJ, o projeto está sendo desenvolvido no município de São João da Barra, na Região Norte Fluminense, onde 60 residências participam do estudo. Metade delas usa a armadilha com o fungo enquanto a outra metade serve como grupo controle para a comparação de dados.

“Em todas as residências, instalamos também ovitrampas, vasos pretos de plástico com palhetas de madeira eucatex e água, que atraem as fêmeas para depositarem seus ovos. Pela contagem desses ovos, temos como dimensionar a população de mosquitos em cada casa”, explica Adriano. Resultados preliminares de 2014 e 2015 mostram que, de todos os ovos contabilizados, 65% estavam nas ovitrampas das casas tidas como controle, enquanto 35% estavam nas ovitrampas instaladas nas casas com as armadilhas PET com pano preto + fungo. “Moradores também relataram a diminuição do incômodo causado pelas picadas dos mosquitos.” O que se conclui é que diminuiu o número de mosquitos nos locais tratados com o fungo, em comparação com as casas controle. “Os mosquitos que pousam no pano preto com o fungo morrem e, portanto, não se reproduzem. Além disso, todos os ovos de A. aegypti coletados são levados para a Uenf e devidamente inviabilizados, contribuindo ainda mais para a redução da população do vetor da dengue na região.”

Antes de serem instaladas nas casas de São João da Barra, as armadilhas PET com pano preto + fungo foram testadas em duas salas de nove m2, exatamente iguais, montadas na universidade, com mesas, cadeiras e armários, de modo a simular um cômodo residencial. Em uma delas foram colocadas algumas armadilhas com o fungo e, na outra, não. “Cinquenta mosquitos procedentes do nosso criadouro de pesquisa eram soltos em cada uma das salas, que eram completamente vedadas. Após cinco dias, com a ajuda do chamado BG-Sentinel, recolhíamos os insetos sobreviventes. “O BG-Sentinel é um instrumento de pesquisa, que tem um pote preto com um funil no interior e um líquido atrativo para os mosquitos. Isso faz com que os mosquitos entrem e não consigam mais sair, permitindo a nossa contagem”, diz o biólogo. O experimento foi repetido inúmeras vezes e em média apenas 10 mosquitos permaneciam vivos na sala que continha a armadilha com o fungo, em comparação com os 45 vivos na sala sem a armadilha. “Como as duas salas tinham chão de piso branco, conseguíamos achar alguns mosquitos mortos. Quando isso acontecia, levávamos para análise para atestar que a morte tinha sido mesmo em consequência da toxidade provocada pelo fungo”, complementa.

     
    O tecido preto atrai os mosquitos, que entram em
contato com o fungo, que atua como inseticida biológico

Para Adriano, o controle biológico utilizando fungos tem se apresentado como uma alternativa promissora para reduzir a população de A. aegypti e consequentemente a transmissão da dengue. Mais do que um trabalho de campo para testar a armadilha com fungo e as ovitrampas, a equipe propõe um projeto mais amplo, convidando a população de São João da Barra a se unir contra o aumento de incidência da doença. Para isso, seus integrantes realizam inúmeras palestras e workshops para esclarecer sobre os métodos para minimizar a proliferação de mosquitos, além de ensinar a reconhecer os criadouros, larvas e adultos de A. aegypti

Para o futuro, Adriano adianta que o objetivo é melhorar a armadilha e viabilizar uma formulação à base de fungo que seja mais duradoura, que permaneça matando os mosquitos por 40 dias ou mais. Pretende-se aumentar o número de voluntários do projeto e conseguir fomentos para que a armadilha possa ser distribuída em um número cada vez maior de residências. O projeto conta atualmente com a colaboração do Núcleo de Controle de Zoonoses de São João da Barra. Os resultados promissores já foram publicados em inúmeros periódicos de impacto, como Parasites & Vectors, Letters in Applied Microbiology, Biocontrol Science and Technology, atraindo inclusive a colaboração de institutos de pesquisas nacionais e internacionais.

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