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Publicado em: 06/08/2015
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Cocaína: presença frequente nas cédulas de real

Elena Mandarim

Para extrair a cocaína, as cédulas  são colocadas em solução de acetato (Foto: Divulgação)

Desde criança, aprendemos que dinheiro é cheio de impurezas, sujo, e que por isso devemos sempre lavar as mãos depois de manuseá-lo. Mas será que alguém já parou para pensar o que, de fato, contém essas impurezas? Pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) constataram, entre outras substâncias, a presença de microgramas de cocaína em 90% das cédulas da moeda brasileira, o Real. São pequenas quantidades, que não representam qualquer risco à saúde, mas servem para evidenciar a disseminação da droga no estado do Rio de Janeiro. O projeto, financiado pelo edital Prioridade Rio, da FAPERJ, foi tema da tese de doutorado da farmacêutica Vanessa Gomes Kelly Almeida, sob orientação de Ricardo Cassella e co-orientação de Wagner Pacheco, ambos, professores do Instituto de Química, da UFF.

Realizada no Laboratório de Espectroanalítica Aplicada (Lespa), a pesquisa segue a metodologia de estudos já realizados na Europa e nos Estados Unidos, que visavam analisar a frequência de cocaína nas cédulas, como forma de traçar um perfil de sua disseminação. “Nossos resultados mostraram que a contaminação das notas de real tem o mesmo padrão de distribuição observado em euros e dólares. Ou seja, as notas de valor mais baixo, como R$ 2, R$ 5 e R$ 10, apresentam maior quantidade da droga quando comparadas com as de R$ 50 e R$ 100. Além disso, não há variação significativa na comparação de cédulas retiradas dos grandes centros daquelas recolhidas em cidades do interior, o que pode evidenciar tanto uma grande circulação do dinheiro quanto da própria droga”, explica Vanessa.

Para chegar a essas conclusões, Vanessa explica que 138 notas de real foram recolhidas aleatoriamente em cidades da Região Metropolitana e em municípios do Interior Fluminense, o que torna a amostragem bem representativa do estado do Rio de Janeiro. “Procuramos recolher de três a quatro notas, em cada local, justamente para avaliar se as concentrações da droga variavam muito em cédulas de valores diferentes, o que não foi observado”, diz a farmacêutica. Ela conta ainda que três amostras de notas foram cedidas pela Polícia Civil, fruto de apreensão junto ao tráfico de drogas. Elas apresentaram uma concentração de cocaína 30 vezes maior do que as demais cédulas analisadas no estudo.

"Uma das explicações para esse resultado é que o papel-moeda apresenta porosidade, o que facilita sua impregnação pela cocaína, que é um pó finíssimo. Além disso, sabemos que um número considerável de usuários e traficantes enrolam as notas para usá-las como canudos na hora de aspirar a droga. Logo, a conclusão é que, em contato com a cocaína, as notas acabam com uma elevada concentração da droga, embora essa quantidade diminua à medida que o dinheiro circula, mantendo-se em concentrações mínimas e constantes.”  

Segundo Vanessa, para extrair a droga presente nas cédulas de real é preciso deixá-las em um tubo de vidro, durante 24 horas, mergulhadas em uma solução tampão de acetato. Com esse procedimento, todas as impurezas são retiradas do papel e se mantém diluídas no líquido. Depois disso, as cédulas são colocadas para secar e voltam à circulação. O líquido que sobra no tubo de vidro é processado no cromatógrafo, um equipamento bastante utilizado na indústria farmacêutica para separar diferentes substâncias e quantificar a concentração de cada uma delas. “Assim, conseguimos saber quais são as impurezas presentes nas cédulas analisadas e suas quantidades”, conta a pesquisadora.

Perfil químico das drogas: uma ajuda para análises forenses

Vanessa ressalta que estudos já descritos na literatura científica indicaram que a composição química da cocaína comercializada no Brasil muda de um estado para outro. Isso ocorre em função das substâncias adicionadas à droga com a finalidade de aumentar seu volume e, consequentemente, o lucro dos traficantes. “Todas as amostras de cocaína apreendidas no estado do Rio de Janeiro apresentam teores muito baixos da droga, menos de 30%. O resto é composto pelos chamados adulterantes, que podem ser paracetamol, lidocaína e fenacetina, entre outros”, explica a farmacêutica.

Ela aposta que a quantificação dos adulterantes pode fornecer subsídios para a caracterização da droga e, com isso, ajudar na investigação do tráfico. A descrição qualitativa e quantitativa desses adulterantes também pode ser realizada pelo cromatógrafo. Vanessa lembra que a presença de chumbo e manganês pode ser igualmente importante para a diferenciação da composição química das drogas. “Nas amostras de cocaína do Rio de Janeiro é comum acharmos traços significativos desses dois elementos quando comparadas a amostras de outros estados”, conta a farmacêutica. Ela adianta que a caracterização química dessa cocaína é o próximo passo do projeto. “Queremos construir uma espécie de assinatura química da droga e acreditamos que o método pode ser considerado uma alternativa confiável para análises forenses”, conclui.

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