Vinicius Zepeda
Anderson Barros, 19 anos, estudante secundarista e morador do Morro do Timbaú - uma das 16 comunidades que compõe o bairro Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro - toca teclado desde os 10 anos, e há 3, violão e cavaquinho. Hoje, ele é um dos colaboradores e beneficiados pelo projeto Música, memória e sociabilidade da Maré, que busca mapear os gêneros musicais existentes no bairro. A pesquisa é coordenada pelo professor da UFRJ Samuel Araújo, contemplado em 2005 com uma bolsa Cientistas do Nosso Estado da FAPERJ.
O projeto de Araújo investiga ainda de que modo a violência permeia estilos musicais como o funk, o rap, e o heavy metal. O comércio de fitas, CDs e LPs independentes lançados por músicos da região e vendidos ali mesmo também é estudado no trabalho. "Com o apoio dos moradores, estamos criando um mapa musical da Maré através da realização de entrevistas, exibição de vídeos e debates", afirma.
Um dos participantes da pesquisa, Anderson Barros vê no mapa uma esperança de que a Maré deixe de aparecer apenas na crônica policial. "Espero que com o projeto a mídia passe a nos ver de maneira mais positiva e mostre também a riqueza cultural e musical do nosso bairro", diz.
O projeto começou no final de 2003 quando Eduardo Duque, morador da Vila do João e colaborador do Ceasm (Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré), realizava uma pesquisa sobre identidades culturais na Maré. Ele teve a idéia de propor ao seu orientador, Samuel Araújo, um projeto em parceria com o Ceasm para mapear as práticas musicais e sociais do bairro. Araújo apoiou a idéia e em março de 2004 estava pronto o projeto Música, memória e sociabilidade da Maré.
Duque é o responsável pela coordenação local do projeto. A pesquisa, que em 2004 esteve restrita às comunidades de Nova Holanda e Morro do Timbaú, graças ao apoio da FAPERJ será expandida para as outras 14 comunidades da região. Araújo e Duque estão tão satisfeitos com o projeto que planejam estendê-lo à Mangueira, Morro da Serrinha, Rocinha e outras comunidades conhecidas pela sua riqueza musical.
Anna Karla de Souza da Silva, 24 anos, estudante de Biblioteconomia da Uni-Rio, é colaboradora da Rede Memória do Ceasm e está ajudando na catalogação e arquivamento do material de filmagem e entrevista do mapa. Ela espera que o projeto sirva para melhorar a qualidade de vida e a realizar os sonhos de seus colegas maréenses. "Espero também que esse trabalho contribua para levar outros negros, como eu, à universidade, onde, infelizmente ainda somos poucos. É só reparar quanto espaço de estacionamento existe na universidade para concluir o quanto o ensino superior ainda é elitista", observa.
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