Se uma pessoa lhe diz que o seu fiel analgésico é inócuo para as dores dela, acredite. Pesquisas de indústrias farmacêuticas mostram que a resposta aos analgésicos-antitérmicos pode variar até 90% de uma pessoa para outra. A razão disso está nos genes de cada um.
Descobrir os fatores genéticos que interferem no efeito das drogas sobre cada organismo – inclusive substâncias de uso comum, como o álcool e a nicotina - é o desafio da farmacogenética, ciência que nasceu na década de 1950 e hoje também é chamada de farmacogenômica.
Em suas pesquisas, os farmacogeneticistas buscam relações entre os genes e a ação de substâncias no organismo, visando à individualização da terapêutica, com o desenvolvimento de medicamentos específicos para cada paciente, mais eficazes e menos tóxicos, prescritos na dose exata. O desafio é enorme, já que são muitas as proteínas que interagem com os medicamentos. Além disso, a maioria das doenças é poligênica, o que torna ainda mais complexa a investigação.
Ao redor do mundo, pesquisadores estudam características genéticas comuns a grupos étnicos, com o objetivo de produzir medicamentos próprios para determinadas populações. Já a população brasileira é considerada a mais miscigenada do planeta, com genes indígenas, europeus e africanos convivendo em harmonia. Essa convivência representa um grande desafio para pesquisas em em farmacogenética.
Para integrar projetos de estudos sobre a população brasileira, foi criada a Rede Nacional de Farmacogenética/Farmacogenômica, batizada de Refargen, que tem sede virtual em www.refargen.org.br. A rede reúne 22 grupos de pesquisa das cinco regiões do país e é coordenada pelo pesquisador Guilherme Suarez-Kurtz, do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e Cientista do Nosso Estado pela FAPERJ.
Com o apoio da FAPERJ, Kurtz e seu grupo dedicam-se a três linhas de pesquisa: o estudo da correlação entre a ancestralidade individual e as diferenças na resposta aos medicamentos; os anti-inflamatórios; e a nicotina e a dependência ao tabagismo.
Em artigo publicado na revista Ciência Hoje, Kurtz apresenta um estudo com o antiinflamatório tenoxicam. A pesquisa reuniu 311 adultos, homens e mulheres, que se declararam brancos, intermediários (pardos e mulatos) ou negros – critério adotado pelo IBGE – e revelou diferença significativa em alelos do gene CYP2C9 entre brancos e negros. O gene codifica enzima de mesmo nome, responsável pela biotransformação de cerca de 15% dos medicamentos de uso clínico, como o anticoagulante varfarina, o anticonvulsivante fenitoína, o antidiabético glibencamida e vários antiinflamatórios, entre eles o tenoxicam. “Estudos clínicos mostram que os efeitos terapêuticos e as reações adversas desses medicamentos são modificados por polimorfismos desse gene, e que, em alguns casos, o ajuste da dose individual com base na informação genética melhora a relação risco/benefício”, explica o pesquisador.
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