Marina Lemle
Considerado um "primo pobre" do Indo-Pacífico do ponto de vista de fauna de corais, o oceano Atlântico deverá passar a ser visto como um centro de diversidade específico, merecedor de uma atenção maior em programas de conservação. A mudança se dará graças a estudos conduzidos por pesquisadores brasileiros, entre eles Antonio Mateo Solé-Cava, do Laboratório de Biodiversidade Molecular do Departamento de Genética do Instituto de Biologia, da UFRJ.
Com o apoio do edital Cientistas do Nosso Estado, Solé-Cava desenvolve o projeto "Filogeografia do Atlântico Tropical", no qual investiga os vínculos existentes entre a fauna marinha brasileira, a do Caribe e a da África. Filogeografia é o uso de informações genéticas para desvendar a história evolutiva das espécies ou das regiões. “Nossa hipótese é que o número de espécies endêmicas marinhas brasileiras seja maior do que se pensava. Muitas espécies brasileiras ocorrem também no Caribe, mas descobrimos que existem várias outras que, apesar de terem recebido o mesmo nome taxonômico, são espécies diferentes. Avaliamos isso através de marcadores bioquímicos (isoenzimas) e moleculares (DNA)”, explica o pesquisador.
A questão envolve as correntes marítimas. De acordo com Solé-Cava, a maior parte da costa brasileira é influenciada pela Corrente do Brasil, uma massa de água quente que se origina na Corrente Sul-Equatorial, que vem da África, e desce ao longo da costa a partir do Nordeste. Outra parte da Corrente Sul-Equatorial se desvia para o Norte, passando ao longo do Maranhão, Pará e Amazonas e seguindo para o Caribe. Assim, o padrão de correntes deveria representar uma barreira importante à passagem de animais marinhos entre o Caribe e o Leste brasileiro. No entanto, muitas espécies citadas no Brasil são iguais às do Caribe, o que faz com que o grau de endemismo, isto é, o número de espécies exclusivas da fauna marinha brasileira, não seja muito alto. “Isso tem importância para políticas de conservação mundiais, já que um dos critérios para preservação de uma área é a sua singularidade evolutiva”, esclarece o professor.
Em colaboração com equipes dos EUA e da França, a equipe do pesquisador já publicou cerca de 10 artigos sobre o assunto, baseados em trabalhos experimentais feitos exclusivamente no Brasil. Um desses estudos, publicado em 2004 na revista Nature, apresenta uma família nova de corais, exclusiva do Atlântico. Até agora nenhuma família de corais era considerada endêmica do Atlântico. “Descobrimos que a fauna de corais do Brasil e a do Caribe formam um grupo muito mais semelhante do que o que se pensava, provavelmente constituindo uma família endêmica do Atlântico”, afirma.
O desafio atual do grupo é ampliar a comparação, incluindo também a fauna atlântica da Africa. Para isso, os pesquisadores estão aguardando recursos da National Geographic para uma missão de coletas às ilhas de São Tomé e Príncipe. “A comparação dessas populações com aquelas do Brasil e do Caribe permitirá melhor compreender a história evolutiva da fauna marinha de todo o Atlântico tropical”, conclui Solé-Cava.
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