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Publicado em: 13/09/2002
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Rede contra tuberculose

Marina Lemle

Foto do Miami Museum of Science

A cada segundo, uma pessoa é infectada pelo bacilo Mycobacterium tuberculosis, causador da tuberculose (TB). Cerca de um terço da população mundial está infectada e anualmente cerca de dois milhões de pessoas morrem da doença, sendo a maior causa de óbitos entre pacientes com Aids. Apesar de ser curável, é a moléstia infecciosa que mais mata no mundo, ocorrendo principalmente em países pobres e provocando grave impacto econômico.

O Brasil ocupa o 13 lugar no ranking dos 22 países que concentram 80% dos casos de TB do mundo. Estima-se a incidência de 129 mil casos por ano no país, dos quais cerca de 90 mil são notificados, a maioria em grandes centros urbanos. Só no estado do RJ são 18 mil casos ao ano.

Em 1998, o coeficiente nacional de mortalidade foi de 3,5 por 100 mil, o percentual de detecção de casos de 67% e o de curas, 72%. O abandono do tratamento ronda os 14% e, em algumas capitais, chega a 30 ou 40%, o que provavelmente proporciona resistência aos medicamentos. A avaliação do perfil de resistência aos medicamentos anti-TB é realizada em menos de 5% dos casos diagnosticados.

Entre as razões para tal cenário estão a desigualdade social e suas implicações, os aglomerados populacionais, a Aids, os movimentos migratórios, o envelhecimento da população e o aumento de bacilos resistentes aos medicamentos disponíveis no mercado.

Os dados acima estão no documento base para as discussões do I Workshop da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose, que acontece de 15 a 18 de setembro no Rio Othon Palace, no Rio de Janeiro, e terá a participação de 400 especialistas. A Rede TB é composta por 170 pesquisadores, todos doutores, e 44 instituições, entre órgãos governamentais (ministérios da Ciência e Tecnologia, da Educação e da Saúde), ONGs, programas de tuberculose, universidades e centros de pesquisa. Foi formada em março do ano passado, após o I Seminário Nacional de Prospecção em Ciência e Tecnologia e Integração com Atividades de Controle em Tuberculose, no Rio

“Nas últimas décadas o controle da TB foi grandemente negligenciado pelas políticas públicas, pela sociedade e mesmo pela comunidade científica na falsa ilusão de que o problema estaria resolvido e/ou sob controle”, diz o documento.

  Foto: Universidade de Melbourne

A vontade de cientistas brasileiros de mudar o quadro da tuberculose no país e o intuito de fazer as pesquisas avançarem até o desenvolvimento de fármacos, novas vacinas e novos kits diagnósticos levou à criação da rede, um dos 15 projetos de redes de pesquisa aprovados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia entre 260 concorrentes de todas as áreas do conhecimento, em outubro de 2001.

A Rede TB visa a dar prosseguimento a pesquisas nacionais já avançadas, como a de uma molécula identificada por pesquisadores do Ceará, em análise por pares do Rio Grande do Sul, o desenvolvimento de uma vacina de DNA com tuberculose em Ribeirão Preto, SP, e o kit de diagnóstico criado no Rio Grande do Sul/Rio de Janeiro, que poderá ser produzido e distribuído pela Biomanguinhos/Fiocruz.

Outros objetivos da rede são a capacitação de recursos humanos por universidades e institutos de pesquisa e facilitar a interação entre os Ministérios da C&T, da Saúde, da Educação e a Sociedade Civil Organizada (OSCs) para viabilizar ações conjuntas em benefício da população.

Segundo o professor de Pneumologia e Tisiologia da UFRJ,  Afranio Lineu Kritski, um dos vencedores do edital da área médica da Faperj, falta ao Brasil uma visão de longo prazo na pesquisa científica que congregue esforços das várias áreas do conhecimento cientifico. “A pesquisa básica é muito forte, os pesquisadores brasileiros publicam com freqüência em revistas internacionais e param por ai. Mas o lucro vai para países ricos, que desenvolvem e patenteiam os fármacos, produzidos nos países em desenvolvimento como o Brasil”, diz. Ele lamenta que na nossa rede pública tenhamos que usar remédios produzidos por estrangeiros quando poderíamos criar por conta própria e analisá-los em condições de rotina através de pesquisas operacionais.

“Há um gap na pesquisa clínica e pré-clínica nacional. A indústria farmacêutica e os países desenvolvidos investem nisso, mas o Brasil não. O Brasil nunca produziu um fármaco porque as pesquisas clínicas não vão adiante”, afirma. Segundo ele, nas três primeiras fases de pesquisa clínica, inexistem estruturas clínico-laboratoriais seja em hospitais universitários ou em centros de pesquisa para a realização de tais estudos. Além disso, o órgão formador, as Faculdades de Medicina, não tem priorizado a formação de médicos pesquisadores que poderiam atuar nesta área.

O pesquisador se refere aos testes com humanos voluntários. Numa primeira fase, os medicamentos são testados em 20 a 30 pessoas saudáveis; depois, a toxicidade do novo fármaco (fase II) é avaliada em 30 pacientes com a enfermidade; e, na fase III, a eficácia é testada em 300 pacientes especiais (sem complicações ou doenças graves). Existe sim, nestas fases, um investimento enorme da indústria farmacêutica para obter a permissão/validação pelo pelo FDA (Food and Drug Administration, dos EUA) ou órgão regulatório europeu para a comercializar o produto. "Depois disto, na fase IV, onde o fármaco deveria ser avaliado em condições de rotina, infelizmente não há participação do governo e aqui a indústria não se interessa", lamenta Kritski. Ele explica que, nesta fase, estudos de custo-efetividade deveriam ser realizados para identificar quais seriam os fármacos, vacinas ou métodos diagnósticos mais apropriados para a população local. Mas isso não acontece.

De acordo com o médico, tornou-se consenso na Rede TB a necessidade urgente de investimentos financeiros pelos órgãos governamentais federais e fundações de pesquisa estaduais na implementação de Centros de Pesquisas Clínicas, de preferência em hospitais universitários ou institutos de pesquisa, para possibilitar uma maior interação entre os cientistas de áreas básicas com as outras áreas de pesquisa operacional nos serviços de saúde do país. "Tal estratégia possibilitará a criação de uma plataforma de atividades congregadas e interativas desde o momento inicial da criação do novo produto até seu uso na rede de saúde", conclui.

Mais informações:

Visite o site www.redetb.usp.br

Evento anuncia avanços contra a tuberculose (O Globo, 17 de Setembro de 2002)

Arquivos Word (.doc)

Programação do I Workshop da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose

I Workshop Rede-TB (Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose - documento base para discussões - Implementação de estratégias integradas na área pesquisa e controle da tuberculose no Brasil)

Integrated strategies for research and control of tuberculosis in brazil: new drugs and vaccines, diagnostic tests and clinical-operational evaluation

Arquivos em PowerPoint:

I Seminário da Área de Pesquisa Epidemiológica, Clínica e Operacional da REDE-TB (prof. Afrânio Kritski, 25 de agosto de 2002)

Tuberculose: Comportamento atual e desafios futuros - XV Congresso Catarinense de Medicina (aula do prof. Afrânio Kritski, 26 de abril de 2002)

Proposta para a Rede TB apresentada na I Reunião dos Institutos do Milênio do Estado do Rio de Janeiro (aula do prof. Afrânio Kritski, 15 de janeiro de 2002)

 

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