Quando compramos verduras com rótulo de “produto orgânico” acreditamos estar adquirindo um alimento mais saudável e seguro. Alimento seguro é aquele livre de perigos de natureza biológica, química e física, ou seja, que não causa dano nem é veículo para um agente de doença capaz de colocar em risco a saúde do consumidor. Produzidos sem o uso de agrotóxicos, os produtos orgânicos estão, portanto, livres de um dos perigos químicos mais importantes. Mas como estarão frente aos perigos biológicos, representados pelos parasitas, bactérias e outros microrganismos patogênicos?
Para tirar a prova, a professora Maria Cristina Prata Neves, da Área de Agricultura Orgânica da Embrapa Agrobiologia, está conduzindo, com o apoio da bolsa de Cientista do Nosso Estado da FAPERJ, estudos microbiológicos e parasitológicos tanto de produtos orgânicos como de produtos convencionais à venda no Rio de Janeiro. A pesquisa também avalia a eficácia dos processos de compostagem e de produção de biofertilizantes na eliminação de perigos de origem biológica.
Desenvolvido em parceria com a Professora Tereza Cristina Bonfim, do Departamento de Parasitologia Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e uma equipe de estudantes, o projeto “Segurança Microbiológica de Produtos Orgânicos no Rio de Janeiro - Diagnóstico no mercado e nas Áreas de Produção”, está voltado, neste momento, para a análise de alfaces - um produto popular, consumido cru e com tempo de crescimento muito rápido.
De acordo com Maria Cristina, os testes conduzidos até o momento em amostras adquiridas nas feiras-livres e supermercados têm mostrado que, ao contrário do que tem sido relatado nas publicações técnicas, não foi possível detectar a presença de protozoários patogênicos ou parasitas. “Nas amostras analisadas, bactérias como a Escherichia coli, por exemplo, quando presente, esteve sempre em níveis considerados normais para uma verdura que cresce em contato com o solo. Bactérias patogênicas como a Salmonella spp, que têm cepas virulentas, capazes de causar agravos à saúde das pessoas, felizmente não foram encontradas”, afirma.
Na nova etapa do projeto, amostras serão obtidas das áreas de produção na região serrana. “Na ocasião, poderemos discutir com os produtores as boas práticas para a produção de alimentos seguros”, diz a pesquisadora, que é multiplicadora nacional em campo do Programa Alimentos Seguros (PAS) e colabora com a equipe técnica que está elaborando manuais e cartilhas.
Resultado de uma parceria entre todas as instituições do Sistema S (Senai, Sebrae, Senac, Seci, Sesc, Senat, Senar) e a Embrapa, com apoio da Anvisa e Ministério do Turismo, o PAS tem como objetivo criar uma infra-estrutura e uma rede de técnicos para difundir as ferramentas para a produção de alimentos seguros e apoiar sua implantação pelas empresas de alimentos. “A segurança dos alimentos não pode ser alcançada atuando-se somente no setor industrial. Ela depende também de ações coordenadas desde a produção primária – o campo - até os alimentos prontos para consumo. O PAS leva para as micro e pequenas empresas uma ferramenta para a produção de alimentos seguros, incentivando o aumento da competitividade entre elas e ajudando a garantir a segurança do consumidor brasileiro. Os resultados que o programa vem obtendo demonstram claramente uma grande mudança nos setores produtivos de alimentos no país”, comemora Maria Cristina.
De acordo com a pesquisadora, o apoio da FAPERJ ao financiar os estudos é fundamental, já que contribui para o levantamento de dados que servem para sensibilizar os produtores, formadores de opinião e órgãos decisórios em geral. “Uma das deficiências sentidas no desenvolvimento do PAS é a falta de informação sobre a segurança dos alimentos no Brasil. Faltam também pesquisas voltadas para desenvolvimento de práticas seguras de produção primária, de tecnologias apropriadas voltadas para a segurança do alimento em todas as etapas da cadeia de produção, desde o cultivo, passando pelo armazenamento, transporte, beneficiamento, empacotamento, processamento e distribuição. Existe uma grande demanda de pesquisa nesta área de enorme importância”, enfatiza.
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