Vinicius Zepeda
O grande número de encostas faz com que o Rio de Janeiro seja uma das mais belas cidades do mundo. Por outro lado, essa natureza exuberante representa um risco a mais para os moradores das cidades e região serrana. Com a ação das chuvas, o estado do Rio é especialmente suscetível a deslizamentos e erosões que causam não só perdas humanas como enormes prejuízos à agricultura e à pecuária, além de assoreamento de rios e canais, favorecendo inundações. Para minimizar esses problemas, o professor de engenharia civil da PUC- Rio Tácio Mauro Pereira de Campos desenvolve um estudo específico sobre o tipo de solo mais comum no Brasil: os solos residuais não-saturados, que apresentam ar e água em sua composição e se caracterizam pela diversidade de propriedades e componentes, tendo comportamentos distintos.
O projeto Avaliação de Mecanismos de Ruptura de Encostas e de Processos Erosivos em Solos Residuais Não Saturados, contemplado com uma bolsa Cientistas do Nosso Estado da FAPERJ, preenche uma lacuna ao estudar este tipo de solo, ainda pouco investigado.
De acordo com o pesquisador, a chuva é a principal causa dos acidentes nas encostas da cidade do Rio de Janeiro e de processos erosivos que ocorrem em diferentes partes do estado, como o voçoramento – quando a ação das chuvas nos solos cria pequenos sulcos que vão crescendo e propiciando a formação de verdadeiros rios artificiais que provocam enchentes e deslizamentos de terra. “Já identificamos uma série de mecanismos que deflagram deslizamentos. A chuva infiltra-se na terra e diminui a resistência do solo, e, dependendo de diferentes condições geo-ambientais pode haver um deslizamento”, explica Tácio de Campos.
Por outro lado, acrescenta o professor, os solos não saturados nas encostas podem ser considerados uma vantagem, uma vez que, se o material fosse do tipo saturado, o prejuízo seria ainda maior. “O que acontece é que a presença de ar e água nos vazios existentes entre os grãos de solo causam uma espécie de sucção, agregando o material e diminuindo o risco de deslizamento em comparação ao solo saturado”, diz.
Outra questão importante na pesquisa é a classificação de materiais não-saturados suscetíveis a erosão em presença de chuvas. “Estamos buscando colaboração com a Embrapa e instituições fluminenses para desenvolver um banco de dados que reúna informações sobre as características dos solos encontrados no estado”, afirma Campos. Ele conta que sua equipe está desenvolvendo tensiômetros elétricos - aparelhos que permitem medir a sucção em solos não-saturados. “Nosso instrumento é superior aos existentes no exterior, mas ainda não está disponível comercialmente”, ressalta.
A pesquisa estuda a ocorrência de acidentes em condições naturais. “Nosso trabalho não investiga as ocupações irregulares tão comuns no estado e que não se resumem só a favelas”, diz. Outro ponto importante de seu trabalho é a sua utilidade para a aplicação de políticas públicas. “É pesquisa básica, mas os estudos são fundamentais para o desenvolvimento urbano e rural racional, ambientalmente seguro”, conclui.
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