Marina Lemle
Os 46 projetos contemplados pelo edital Pesquisa para o SUS – uma parceria da FAPERJ com o Ministério da Saúde - foram apresentados nestas quarta e quinta-feira, dias 30 de novembro e 1 de dezembro, durante o primeiro evento de avaliação do programa, realizado no Museu da República, no Catete.
O evento foi dividido em quatro módulos – áreas estratégicas da saúde (fármacos, imunobiológicos, telemedicina etc); análise das condições de saúde da população do Estado do Rio de Janeiro – situação atual e desenho prospectivo das tendências de mudanças dos sistemas municipais de saúde; avaliação e monitoramento dos sistemas municipais de saúde; e pesquisa em dengue e leishmaniose. Os módulos foram coordenados e avaliados por Nelson Albuquerque de Souza e Silva, José Augusto Messias, Renato Cordeiro e Pedro Lagerblad de Oliveira.
O primeiro projeto apresentado foi o da Rede de Pesquisa em Métodos Moleculares para o Diagnóstico de Doenças Crônicas, Degenerativas, Infecciosas e Parasitárias, coordenado pelo professor José Mauro Peralta, do Departamento de Imunologia do Instituto de Microbiologia da UFRJ. “O objetivo principal da rede é criar um meio de comunicação entre o que se faz na área de pesquisa básica e sua transferência para a área aplicada. Vamos desenvolver e validar métodos moleculares – ensaios enzimáticos, imunológicos e genéticos – que serão aplicados na detecção precoce de doenças cardiovasculares e tromboembólicas, assim como no diagnóstico de doenças infecciosas de importância hospitalar e comunitária”, explicou Peralta.
De acordo com o professor, o projeto permitirá estender para os pacientes do SUS métodos de diagnóstico disponíveis quase exclusivamente em clínicas privadas; introduzir procedimentos de pesquisa na dinâmica assistencial do SUS; promover a interação de pesquisadores com profissionais da área da saúde, possibilitando a formação de recursos humanos; propiciar uma avaliação científica mais profunda dos casos em estudo, para uma intervenção terapêutica mais eficaz; e buscar novas opções de tratamento, compatíveis com o diagnóstico molecular investigado.
“O projeto aproxima a pesquisa científica da assistência do SUS, beneficiando os pacientes e gerando novos conhecimentos a serem relatados na literatura internacional. Acreditamos que este sistema de troca de informações será bastante proveitoso e trará benefício para ambos os lados e, conseqüentemente, melhorando o atendimento de saúde na rede hospitalar do SUS”, disse.
Nesta fase inicial, os pesquisadores realizam reuniões científicas para estabelecer prioridades, adequam espaços de laboratórios para possibilitar a execução das metodologias a serem implantadas, compram equipamentos e reagentes (que em sua maioria são importados e levam de 2 a 6 meses para a sua obtenção), treinam pessoal em técnicas já estabelecidas e desenvolvem programas de computador para agilizar as informações de grupos de pesquisa que compõem a rede.
Segundo Peralta, alguns laboratórios que já vinham prestando serviços ao SUS intensificaram a sua atuação, recebendo um maior volume de material clínico de diversos hospitais públicos do Rio de Janeiro. “Em apenas dois meses de atividade da rede, tivemos a oportunidade de começar a aplicar algumas tecnologias que já estavam desenvolvidas e identificar algumas dificuldades que irão surgir quando do estabelecimento das novas metodologias em determinados serviços de patologia clínica, como a falta de pessoal para assumir essas atividades”, observou. O professor defende a criação de um programa de incentivo para o treinamento de recursos humanos, com a realização de cursos de atualização e de reciclagem, assim como o estímulo a estágios remunerados de curta duração para o aprendizado das novas metodologias.
Autor do projeto “Triagem auditiva e monitorização usando potenciais evocados sensoriais”, Antonio Fernando Catelli Infantosi, da Coppe/UFRJ, apresentou suas duas linhas de atuação: uma utiliza o eletroencefalograma para extrair parâmetros que permitam monitorar a resposta somato-sensitiva do nervo tibial no córtex cerebral durante ou após cirurgias na coluna; outra avalia a resposta somato-sensitiva da pressão sonora (volume do som) para avaliar o limiar auditivo neurofisiológico. “A técnica é ideal para pacientes não colaborativos, como recém-nascidos, e pode ajudar a traçar tratamentos para a criança. Quanto mais tarde se diagnostica a deficiência auditiva, mais difícil é inserir a criança no meio social, apresentando-a à linguagem de sinais”, explicou.
Infantosi enalteceu o programa Pesquisa para o SUS. “A integração entre as fundações de amparo à pesquisa estaduais e o Ministério da Saúde representa o cumprimento de um papel republicano. Essa articulação é fundamental, pois respeita as peculiaridades locais dos estados e suas prioridades”, afirmou. Ele destacou também a importância do acompanhamento dos projetos apoiados: “Avaliações como esta favorecem a integração entre pesquisadores, a otimização de recursos humanos e de infra-estrutura e ainda podem levar à correção de rumos.”
Outra pesquisa avaliada no evento é de Leda dos Reis Castilho,também da Coppe. Leda – que além do edital Pesquisa para o SUS, também já recebeu auxílios dos programas Cientista Jovem do Nosso Estado e Primeiros Projetos, da FAPERJ – lidera o projeto “Desenvolvimento de uma plataforma tecnológica para a produção do fator IX recombinante”. O objetivo é produzir, por via biotecnológica (biosíntese), o fator IX recombinante – uma proteína de coagulação sangüínea cuja falta causa hemofilia de tipo B. “Os produtos no mercado nacional são hemoderivados. O único recombinante que existe no mundo é muito caro, mas a patente vai expirar em breve. Nosso objetivo é otimizar desde a expressão da proteína – fazendo a célula de hamster produzi-la – até a etapa do seu cultivo e purificação”, explica a jovem pesquisadora, que completará 32 anos no próximo dia 8 de dezembro.
Os resumos destes e dos demais projetos serão divulgados em breve através do site da FAPERJ.
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