Marina Ramalho
Imagine-se no Pão de Açúcar, rodeado pelas belezas naturais do Rio de Janeiro. À sua frente, uma espécie de binóculo está direcionada para a paisagem da capital carioca. Ao observar pelo aparato, porém, uma surpresa: a imagem visualizada não é a da cidade contemporânea, mas cenas de um Rio de Janeiro do início do século XX. Mais do que meramente contemplar a paisagem, o observador também pode interagir com ela, girando o binóculo para ver outros pontos da cidade e se aproximando de detalhes da vista, por meio de uma ferramenta de zoom.
Essa mistura de realidade virtual e turismo histórico é apenas uma das aplicações que o projeto Visorama – do Laboratório Visgraf, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), em conjunto com o Núcleo de Imagem (N-Imagem) da Escola de Comunicação da UFRJ – pode desenvolver. A fase atual da pesquisa foi contemplada pelo edital Rio Inovação II da FAPERJ.
O Visorama é um sistema de realidade virtual, baseado em panoramas, que inclui hardware e software. O conceito de panorama é antigo – trata-se de uma espécie de mural, montado numa superfície circular (com forma de cilindro) em torno de uma plataforma central. A partir dessa plataforma é possível observar a figura em todas as direções, como se o observador estivesse no centro da cena. A novidade, de fato, são os panoramas virtuais, em que se busca a mesma experiência dos panoramas originais, mas no mundo virtual.
“A idéia do projeto é simples, mas envolveu muita pesquisa pura e aplicada numa área nova, que agrega síntese, análise e processamento de imagem, além de modelagem geométrica, conceitos do chamado Image-Based Rendering. Tivemos que vencer dois obstáculos: sincronizar os movimentos do binóculo com a visualização da imagem em tempo real e alcançar um alto nível de detalhamento da cena”, explica o pesquisador do IMPA Luiz Velho, que lidera o projeto junto com André Parente, professor da Escola de Comunicação da UFRJ. O resultado, até o momento, foi um protótipo, cuja tecnologia de panorama virtual de multi-resolução é a mais avançada do mundo, desbancando gigantes da tecnologia como a empresa americana Apple.
“Pela ferramenta da Apple, por exemplo, o internauta navega por um panorama virtual utilizando o mouse e a tela do computador. Já no Visorama, criamos uma interface – o binóculo – que é mais natural para o homem manipular e que permite ao observador ficar totalmente imerso naquele ambiente virtual”, diz Velho, acrescentando que a resolução da imagem no Visorama tem qualidade bastante superior.
O protótipo já foi exibido em mostras nacionais e internacionais, onde colheu elogios de pesquisadores da área de Computação Visual. A última instalação da qual participou foi no Museu Europeu de Fotografia, onde ficou de setembro a outubro de 2005, por conta das comemorações do ano do Brasil na França. Essas e outras instalações motivaram a etapa atual do projeto que consiste em atualizar tecnologicamente o hardware e o software e adaptá-los para sua inserção no mercado. “Queremos transferir o Visorama do nosso ambiente de pesquisa para a sociedade, para que o produto seja utilizado em diversos contextos”, explica Velho, que assegura que, em um ano, o equipamento já estará pronto para comercialização.
Sistema de realidade virtual tem aplicações no turismo e na educação, entre outras áreas
Uma das aplicações mais imediatas do Visorama, de acordo com Luiz Velho, será a possibilidade de explorar a vocação turística do Rio de Janeiro. Como no exemplo do Pão de Açúcar, ele vislumbra a utilização do aparato em outras paisagens da cidade, onde se poderá navegar por iconografias antigas e até por cenas pintadas por artistas plásticos.
O pesquisador destaca também o potencial do sistema de realidade virtual para a educação. “É possível criar panoramas de estruturas científicas que são abstratas para estudantes, como um átomo ou célula. Assim, os alunos poderão navegar através do Visorama e compreender melhor essas estruturas”. A atualização do software também incrementará a possibilidade de autoria de panoramas através do equipamento. O usuário poderá criar seu “cenário virtual” e percorrê-lo com o binóculo do iconografias antigas Visorama.
Velho prevê ainda a possibilidade de inserção de vídeos e áudio nos panoramas, o que permitirá enriquecer o conceito de imersão na realidade virtual. “Conforme o usuário for movimentando o binóculo, ele navegará pelas imagens, podendo aproximar-se ou distanciar-se dela pelo zoom, poderá acessar áudios automaticamente e ainda conferir animações”, diz o pesquisador. O Visorama pode, assim, potencializar as possibilidades no mundo do entretenimento.
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