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Publicado em: 06/04/2006
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Apolônio de Carvalho: espaço democrático no Museu da República

Com exibição de vídeo, depoimentos de ex-presos políticos e lembranças de encontros que se tornaram inesquecíveis pela personalidade de um homem que, para muitos, tornou-se um símbolo de coerência por suas idéias políticas, a inauguração do auditório e novas salas no Museu da República, na quinta-feira, 30 de março, foi, na verdade, uma grande homenagem a Apolônio de Carvalho. O conjunto, batizado com seu nome, foi reformado e reaparelhado com o apoio da FAPERJ e será voltado para atividades e eventos na área de ciência e tecnologia.

 

Espaço que pretende tornar-se tão democrático quanto o homem que lhe emprestou o nome, o auditório começou a funcionar antes mesmo de sua inauguração. “Tivemos aqui dois dias de seminário sobre saúde”, explicou o diretor científico da FAPERJ, Jérson Lima, que substituiu o diretor-presidente da fundação, Pedricto Rocha Filho, no evento. Lima fez questão de frisar que, no que depender dele, haverá uma programação intensa, não limitada apenas à ciência e tecnologia. Seria ali, por exemplo, que ele gostaria de ver realizar-se mais um seminário, reunindo os 23 projetos selecionados pelo programa de Direitos Humanos da FAPERJ. “Tudo aqui é resultado de uma política do estado que, com pequenos recursos e parcerias em diversas áreas, como a de museus, mostra que é possível realizar muito”, disse.

 

Apolônio, que recebeu, in memoriam, o título de Personalidade Republicana, foi lembrado nas falas de personalidades presentes e ausentes. Políticos, representantes de organizações não-governamentais, amigos e familiares estiveram entre as cerca de cem pessoas que lotaram o auditório. A governadora Rosinha Garotinho enviou telegrama de cumprimentos. Foi um dos vários recebidos naquela noite.

 

O diretor do Museu da República, Ricardo Vieiralves, lembrou que ao conhecer pessoalmente Apolônio, teve o sentimento de estar diante de uma daquelas pessoas especiais, que despertam esperança e idéias de renovação. “Ele era alguém que conciliava qualidades e que nos fazia pensar que sonhar ainda vale a pena”, disse.  Ele agradeceu à FAPERJ por ter prontamente aderido ao projeto, que também contou com o apoio da Secretaria de Ciência e Tecnologia do estado, e falou ainda sobre o grupo Tortura Nunca Mais, outro homenageado no evento. “A tortura é a barbárie exacerbada, símbolo da desesperança e morte. E o grupo Tortura Nunca Mais manteve em todos esses anos a vigilância pela preservação do humano, representado por sua qualidade mais profunda: a vida”, falou.

 

Há apenas cem dias no posto, o ministro Paulo Vanucci, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, também considerou um privilégio ter conhecido de perto o velho militante do antigo Partido Comunista Brasileiro. Para ele, a abertura dos arquivos da ditadura, que vem sendo feito nos últimos dez anos, com certeza agradaria muito Apolônio. “Com essa abertura estamos procurando reunir consciência e direitos da pessoa humana. Hoje, estamos cumprindo no país a agenda possível de combate e punição à tortura e de uma maior abrangência aos direitos humanos.”

 

Representante do Ministério da Educação, o professor Ricardo Henriques lembrou que a educação tem papel estratégico na defesa dos direitos humanos. “Como pregava Apolônio, precisamos construir um modelo baseado em liberdade e contrário a todas as formas de discriminação nesse país. E a educação permeia a saída que temos para construir uma sociedade mais justa e igualitária.” Ponto com que  o diretor de Museus e Centros Culturais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), José Nascimento Júnior, concordou inteiramente.  “Pelas diretrizes do Ministério da Cultura, os museus também têm que ter um perfil de espaço de resistência e de resgate da memória das instituições e da democracia”, disse, lembrando como, nesse sentido, a cultura pode exercer um papel revolucionário.

 

A exibição do trailler do documentário Vale a Pena Sonhar, de Stela Grisotti e Rudi Böhm, mostrou um pouco das diversas faces do homem que foi Apolônio de Carvalho, através de diferentes depoimentos. O escritor Jorge Amado costumava dizer que ele era um “herói de três pátrias, por ter, além do Brasil, lutado contra Franco, na Guerra Civil Espanhola, e contra o nazismo, na Segunda Guerra Mundial”. Militantes que compartilharam com ele celas da prisão durante o regime militar, depois do golpe de 1964, lembraram episódios em que chegou a impressionar seus torturadores, dizendo “se não falei para a Gestapo, não vai ser agora que vou abrir a boca”, para depois, entre os companheiros, confessar: “Era mentira. Nunca fui preso pela Gestapo.”

 

Ao final da cerimônia, a placa em nome de Apolônio foi descerrada por sua mulher Renné de Carvalho, seguida por breves palavras de seu filho, Renné Louis. “Pensei em como meu pai reagiria a esta homenagem e ele provavelmente diria que tantos outros mereceriam tanto quanto ele”, começou. Para o filho, talvez a marca que mais distinguisse seu pai fosse acreditar que defender ideais não era apenas uma teoria de luta pela liberdade e fraternidade, mas uma prática cotidiana que, entre os Carvalho, começava em casa. “Todas as decisões eram discutidas e tomadas em conjunto por toda a família”, lembrou. O que para o pai Apolônio era como um exemplo de se “pensar não só na igualdade, mas na importância de todo o qualquer indivíduo em uma sociedade”.
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