Vinicius Zepeda
Voltado para incentivar a vocação e o gosto pelas ciências entre e os estudantes de ensino médio/técnico de toda a rede pública de escolas do Estado do Rio de Janeiro, o programa Jovens Talentos (JT) tem contribuído ainda para a formação cidadã dos alunos contemplados e a elevação da auto-estima de jovens de comunidades carentes. Essa é a opinião de Jorge Belizário de Medeiros Maria, que desde 2002 exerce a função de coordenador do programa. Projeto de pré-iniciação científica para estudantes que demonstram afinidade com as ciências, o Jovens Talentos nasceu em 1999 por iniciativa da FAPERJ, em parceria que reúne o Cecierj (Centro de Ciências do Estado do Rio de Janeiro) e a Fiocruz (Fundação Instituto Oswaldo Cruz). Desde julho de 2003 o JT conta com apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), no âmbito de bolsas de Iniciação Científica Júnior.
Em entrevista ao Boletim da FAPERJ, o professor Belizário, como é conhecido pelos alunos, defende a importância social do JT, fala de sua experiência à frente do projeto e de suas expectativas para o ano de 2007. Professor da Secretaria Municipal de Educação desde 1974, esse carioca de 58 anos formado
Boletim da FAPERJ: Qual a importância do programa Jovens Talentos para a divulgação científica entre os estudantes das escolas públicas do Estado do Rio?
JORGE BELIZÁRIO: O Jovens Talentos (JT) leva para a escola pública, através dos alunos selecionados, o conhecimento de práticas científicas desenvolvidas nas instituições de pesquisa de nosso estado que têm parceria com o programa. Assim, divulga-se a ciência e faz-se a integração entre a academia e a escola secundária.
Quais os critérios utilizados para garantir a inclusão de um estudante no programa e como é feita a seleção de alunos que estudam fora da região metropolitana? Todos os municípios do interior têm direito a apresentar candidatos às vagas oferecidas?
Os critérios para que o jovem participe são o interesse na atividade de pesquisa; o bom desempenho escolar; no ano do início do estágio estar cursando a segunda série do Ensino Médio/Profissional; e estar na faixa etária de
A estratégia pedagógica do programa consiste em aproximar os estudantes do cotidiano de pesquisadores em atividade em instituições de ciência e tecnologia. Ao longo dos anos, o senhor teve a chance de acompanhar estudantes cuja passagem pelo programa serviu para ‘despertar’ uma vocação para a pesquisa científica? Algum desses estudantes foi posteriormente beneficiado com outro apoio da Fundação?
Sim, vários estudantes têm sido fortemente influenciados por sua atuação no JT. Há casos de ex-jovens talentos que fizeram a graduação e já concluíram o mestrado na mesma área em que atuaram no programa. O despertar de vocações tem sido uma constante e outro dado muito importante é que vários jovens, após a conclusão do estágio, percebem que aquela não era a sua real vocação a referida área e fazem a graduação em área diferente. Desta forma, o JT também pode servir como norteador na escolha de carreira. Na pesquisa que estamos desenvolvendo com ex-JTs, os números obtidos até agora mostram que, dos jovens que ingressaram na graduação, 65% escolheram a mesma área em que estagiaram. Apenas 35% escolheram áreas diferentes.
Que balanço o senhor faz da presença desse programa junto ao ensino público? Quantos alunos foram beneficiados até o fim do ano letivo de 2006?
O programa é importante já que oferece aos estudantes a oportunidade de demonstrarem sua capacidade e talento, além de trazer valorização para o ensino público e promover uma sensível elevação na auto estima de nossos jovens. Até o final de 2006, tivemos em nossos quadros um total de 2374 jovens.
Houve alguma mudança significativa de orientação do programa ao longo dos anos? Como andam os preparativos para o ano letivo de 2007?
Sim. Mudamos a forma do processo seletivo. Começamos a solicitar que as escolas participantes passassem, através de um miniconselho de classe, a realizar uma seleção preliminar dos estudantes, a partir das opções de área de pesquisa que dispomos a cada período. A partir daí, realizamos a seleção final dos estudantes. Abrimos oportunidades de escolha em áreas de pesquisa que antes não eram contempladas. Atualmente, entre áreas e subáreas, são oferecidas 37 opções aos jovens. Conseguimos implantar novas parcerias para atender novos municípios como Bom Jesus de Itabapoana, Saquarema, Barra Mansa, Pinheiral, Seropédica, Vassouras, Angra dos Reis e Itaboraí. Conseguimos também novas parcerias para a Região Metropolitana com a Pesagro Rio e Niterói, e os Institutos Virtuais de Paleontologia e de Esportes. Para o ano que está começando, os meses de janeiro e fevereiro são destinados à adesão de orientadores e à renovação de bolsas. Em março e abril serão realizadas as reuniões de seleção de novos estudantes em todos os municípios envolvidos. Em maio, então, começa nova etapa Estágio Inicial. A Jornada Científica deste ano está programada para 21 de novembro e será realizada em Angra dos Reis.
O que significa o Estágio Avançado e que resultados foram obtidos após a sua implementação?
Estágio Avançado é a segunda fase do programa Jovens Talentos. Os alunos que mostram interesse e têm bom desempenho na primeira fase, chamada de Estágio Inicial e que vai de maio a dezembro, pode ter o estágio renovado para o ano seguinte a pedido do orientador. Nesta segunda etapa, o jovem tem a chance de aprofundar o trabalho de pesquisa que realizava no estágio inicial.
Todos os anos, ao término do programa, é organizada uma Jornada Científica na qual os alunos apresentam os trabalhos realizados. Qual a importância desse evento para os estudantes?
Ele é muito importante pois permite que os estudantes mostrem o trabalho que produziram ao longo do estágio. Em 2006, a Jornada foi realizada em dois momentos. O primeiro, no final de novembro, constou do I Encontro de JTs em que realizamos uma prestação de contas da nossa gestão e abrimos espaço para discussão sobre o projeto com JTs, ex-JTs convidados e orientadores presentes. Esta etapa foi realizada na Uerj. O segundo momento foi a exposição dos trabalhos, realizada no Departamento de Geociências da UFF. Para 2007 pretendemos realizar um simpósio, inserindo as apresentações orais dos alunos. Para os estudantes é um momento único, de suma importância acadêmica e pessoal, além de servir para criar laços de amizade com os outros alunos, orientadores e demais envolvidos nos municípios e nas diferentes instituições.
O senhor poderia citar pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento por alunos que ganharam o reconhecimento de pesquisadores?
Citar algumas pesquisas seria inadequado uma vez que o volume de excelentes trabalhos é muito grande. Poderíamos citar três casos que extrapolaram o âmbito do JT e tornaram-se conhecidos e aclamados no Brasil. Em 2001, na Reunião Anual do SBPC, o estudante Vinícius Souza da Conceição ganhou a primeira colocação no Prêmio Cientistas do Amanhã, com o trabalho O status imunológico da mucosa intestinal influencia a resposta à antígenos presentes no lumen intestinal?, sob a orientação de Gerlinde Teixeira, da UFF. Dois anos depois, em 2003, dois de nossos alunos ficaram entre os dez finalistas do mesmo prêmio. Foram eles Moacyr Starich Guerra Barreto, com a pesquisa Diferenciação espontânea de neurônios dopaminérgicos em cultura de células de retina de aves em desenvolvimento , sob a orientação de Jan Nora, da UFRJ; e Ana Cristina de Albuquerque Xavier, com Estudo da biogênese de autofagossomos em células de adenocarcinoma de colon humano HCP-116 em resposta à radiação, sob a orientação de José Andrés, Inca.
Diversos autores defendem que algum conhecimento científico é essencial para garantir o exercício de uma cidadania plena e instrumentalizar o cidadão, permitindo que ele possa participar plenamente do debate numa sociedade democrática. O programa Jovens Talentos contribui de alguma forma para a formação da cidadania?
Além da finalidade de despertar o interesse pela atividade científica em nossos jovens estudantes e revelar talentos para a pesquisa, o Jovens Talentos também tem promovido a inclusão da camada social representada pela clientela de nossas escolas públicas estaduais, permitindo a elevação da auto estima destes jovens, valorizando o ensino público e contribuindo para a formação cidadã de nossos alunos. Em 2007, estaremos num Projeto de Arqueologia Histórica que será desenvolvido em Angra dos Reis e Paraty pela professora Nanci Vieira, da Uerj, em parceria com a Eletronuclear. Ele visa inserir jovens das comunidades indígena e quilombola da região no programa, aumentando sobremaneira nosso objetivo de inclusão.
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