Mônica Maia
Divulgação Prourb - FAU/UFRJ |
Projeto da UFRJ verifica os acessos públicos |
Isso ocorre porque muitos deles são mesmo desconhecidos pela maioria da população. Entre as lagoas, a que realmente tem uso público e visibilidade é a Rodrigo de Freitas, a maior da Zona Sul da cidade: "O complexo lagunar da Baixada de Jacarepaguá está cada vez mais escondido. A ocupação urbana que se dá na região, em grande escala e de forma acelerada, oculta as lagoas da paisagem pública daquela área da cidade, tornando-as um espaço residual - bem diferente do uso que se faz com a Rodrigo de Freitas", alerta a pesquisadora e professora Lúcia Maria Sá Antunes Costa.
Segundo a urbanista, um dos maiores fatores de preservação é a visibilidade: "Quanto mais se esconde a água, mais fácil aterrar e poluir. Ao constatar este fato, não apenas no decorrer desta pesquisa como também na nossa própria vivência da cidade, compreendemos que uma das atitudes mais prementes para a revalorização destes rios seria a de torná-los visíveis para a população, para os projetistas e, curiosamente, também para quem administra a cidade. Estudamos esses casos procurando investigar a relação entre discursos e práticas no que diz respeito à inserção paisagística dos rios e lagoas do Rio", analisa. Muitos dos rios cariocas estão canalizados ou mortos, resultado de políticas públicas desenvolvidas ao longo da nossa história urbana.
Nesse processo, testemunhamos a luta com a própria expansão da cidade, aterrando suas águas para ocupação do espaço urbano. Os rios foram sacrificados em prol do saneamento: "O rio é uma estrutura ambiental viva. Diria que nosso problema maior nos rios e lagos localiza-se hoje na Barra da Tijuca. Os rios e lagoas, que ocupam grande parte daquela região, só podem ser vistos e percebidos em fotos aéreas porque estão escondidos por condomínios, shoppings, complexos de escritórios e pela intensa favelização de suas margens", diz a pesquisadora.
Com essa abordagem, ela argumenta que os rios ainda a céu aberto são vítimas do conflito entre a habitação irregular e a preservação ambiental: "São áreas muito invadidas por habitações informais e condomínios irregulares em suas Faixas Marginas de Proteção. Um exemplo é o rio Guerenguê / Arroio Pavuna, em Jacarepaguá, que sai de Curicica e deságua na lagoa do Camorim. O rio Acari é outro. Um bom número deles passa por situações de insalubridade e propicia as enchentes", explica. Ela ressalta ainda que o plano urbanístico de Lucio Costa para a Barra da Tijuca previu a ocupação das margens das lagoas por unidades de conservação, mas foi desinterpretado e desrespeitado na maioria das vezes pela ocupação desenfreada da área.
A ocultação e a preservação das águas urbanas
A pesquisa Águas urbanas: discursos e práticas, inserida no Núcleo de Pesquisas em Paisagismo do PROURB, investiga essas relações entre águas, cidade e população, buscando propor subsídios para projetos e políticas públicas que possam valorizar os recursos hídricos pelos seus valores sociais e ambientais. Isto inclui o estudo de como as ocupações urbanas da Barra impedem o acesso aos rios e lagoas, e mostra que a população tem muito pouco acesso às suas margens.
"Fizemos uma pesquisa sobre a Lagoa do Camorim, por exemplo, e verificamos que o local tem muito pouca visibilidade e acessibilidade pública. Apesar dos jardins públicos projetados por Fernando Chacel, para se chegar lá temos que vencer uma série de obstáculos. O desenho da cidade não privilegiou, e não está privilegiando, o acesso público a essas áreas. Durante esse levantamento, na convivência com moradores da Barra e pessoas que passam pelo bairro notamos que eles não percebem que ali há uma lagoa. Hoje praticamente só através de imagens aéreas consegue-se identificar e avaliar a extensão do sistema lagunar da Baixada de Jacarepaguá da Barra da Tijuca", ressalta Lucia Costa.
Diante disso, a coordenadora da pesquisa indica uma rota para a preservação: "A questão ambiental diz respeito a um projeto de país, pois envolve ainda questões políticas, econômicas e legislativas, entre tantas outras. Nossa parte é buscar soluções em paisagismo, urbanismo e arquitetura, propondo projetos e formando novos profissionais com outra visão nestas áreas, e que possam agir em equipes interdisciplinares. É o que estamos fazendo aqui no Prourb da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. O novo grupo de profissionais que formamos trabalhará com esse direcionamento. Seja em órgãos públicos ou como profissionais liberais, eles podem mudar esse panorama", diz.
Qual a cidade do mundo que dispõe de rios e cachoeiras tão próximas às áreas urbanas como encontramos na Floresta da Tijuca, Paineiras e Horto? "Entre as grandes metrópoles não há um só exemplo de tal opção na área urbana. Antes se tinha como a melhor maneira de preservar uma estrutura ambiental protegê-la do olhar e do acesso público. Hoje entendemos que o uso público controlado é a melhor forma de preservação porque esse bem natural torna-se um bem de uso público", defende a urbanista.
Ela sublinha o valor das cachoeiras como estruturas de lazer, como nas Paineiras e Macacos, as mais famosas da Zona Sul, e que também servem como atração turística e parte da cultura do cotidiano. "As cachoeiras estão passando a ter outra forma de apropriação. Os grupos que fazem trilhas pelas florestas do Rio têm um excelente trabalho de divulgação e um papel importante na preservação ambiental", informa.
Outro resultado do levantamento dessa pesquisa é a produção do site Águas Cariocas, em construção. "Os rios estão em perigo, não participam da nossa vivência da cidade. Seus valores sociais e ambientais não têm sido incorporados ao desenvolvimento urbano. Imagine se a praia de Ipanema fosse um fundo de lote das construções na Avenida Vieira Souto? É o que está acontecendo com nossos rios e lagoas", avisa a urbanista.
Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes