Mônica Maia
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Priscila Cardoso, bolsista de Iniciação |
Ela está sob orientação de Carlos Henrique de Vasconcelos Ribeiro, coordenador técnico de Educação Física da Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro), doutor em Educação Física e Cultura pela Universidade Gama Filho e Universidade de Stirling, Escócia, onde completou uma bolsa-sanduíche. Lá Carlos Henrique também pretende fazer seu pós-doutorado sobre Esporte e imigração. Enquanto isso, ele treina as habilidades de sua aluna em reunião, tratamento e compilação de dados para essa nova empreitada acadêmica.
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Carlos Henrique investiga |
Ela mostra que Portugal desde 2002 lidera o ranking dos países que mais recebem craques brasileiros, a uma média de 140 jogadores por ano. "Isso representa 35% das transferências. Itália, França, Alemanha, Japão e Espanha seguem Portugal nesse ranking, e as transferências têm aumentado muito. Só no Japão esse ano foram 49 até maio", conta a bolsista.
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O meio-campista Deco é titular da seleção |
Seu orientador lembra que isso tem um impacto econômico: "Assim como os imigrantes mexicanos, esses jogadores mandam dólares e euros para o Brasil, passam a ser uma fonte de receita considerável", sugere, explicando que são várias as categorias de jogadores nesse trânsito: "Temos diversos níveis de futebol: na Espanha, está hoje o melhor de nossos jogadores, é onde estão as estrelas mundiais. A China está tentando popularizar o esporte, contratando jogadores brasileiros", considera.
"Por ano, temos 822 atletas transferidos na categoria profissional, fora os "de base" - aqueles com menos idade, que estão nos Centros de Treinamento brasileiros e continuam nos Centros de Treinamento de outro país. No caso de menores de 18 anos, uma lei da Fifa proíbe certos acordos. Entre 14 e 17 anos, uma forma que os atletas encontram de ir para o exterior é através do acompanhamento da família, isto é, é preciso estabelecer uma estrutura capaz de justificar que a ida do jovem jogador para o exteriors não foi somente pelo futebol", explica a jovem pesquisadora, sublinhando que Afonso já superou as marcas de gols de Ronaldinho e Ronaldo na Holanda.
Imigração, incorporação cultural e adaptação
Segundo Carlos Henrique Ribeiro, matérias do jornal O Globo também comprovam que cada vez mais brasileiros despontam no futebol europeu e cada vez mais jogadores são importados pelos clubes estrangeiros. "Com isso, é dado um prazo de 30 dias para que os jogadores emitam o certificado internacional de transferência, visto, ou seja, trata-se de um processo rápido, onde em apenas um mês se agiliza tudo. Começam a agilizar o processo quando agência qualifica. Esses adolescentes ficam horas treinando, são mão-de-obra qualificada. O movimento acontece também no futsal para a Espanha e no basquete para os Estados Unidos", lembra o professor.
"Eles são o Brasil no futebol, mas estão no estrangeiro por opção. Nascer no Brasil faz com que eles tenham uma marca, um brand particular nesse esporte", analisa Carlos Henrique, que assina artigos acadêmicos que exploram questões como a identidade de craques brasileiros atuando em outras seleções nacionais como Guimarães (Costa Rica), Deco (Portugal), Kuranyi e Paulo Rink (Alemanha), Alex, Roberto, Kazu e Wagner (Japão) e Oliveira (Bélgica).
"Apesar desses jogadores serem pouco conhecidos no Brasil, muitas vezes eles salvaram suas novas seleções da derrota, são como heróis que ajudaram a conquistar um título importante. Também é comum vermos a mídia nacional chamá-los de brasileiros, apesar de estarem atuando em seleções estrangeiras, em outros países, onde estão envolvidos com aspectos simbólicos, tais como a camisa, o hino nacional e os torcedores", questiona o professor Carlos Henrique em seu artigo Jogadores brasileiros em seleções do estrangeiro: a qual nação eles pertencem?.
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Kuranyi deixou o Brasil aos 15 anos e |
Mas essa rota de ida tem volta? Muitos retornam por motivos simples: "Quem volta é porque não se adaptou devido a razões diversas como a cultura, a língua, o frio, a religião. Em 2006, 50% fazendo uma comparação, desses 882 que foram transferidos houve um contingente em torno de 50% desse total em retornos, levando-se em conta as transferências anteriores. Vamos fazer entrevistas previstas no projeto para identificar com precisão as razões desse retorno", diz o professor.
Os novos celeiros de craques
E de onde vêm esses atletas? Segundo o levantamento dessa pesquisa, a maioria dos jogadores é de São Paulo (246 transferidos); seguido pelo Rio de Janeiro (85 transferidos); Rio Grande do Sul, com 79 registros, e Paraná, com 75 exportados. Mas São Paulo também é campeão de voltas. "Teve um retorno de 105 em um ano em que 248 foram transferidos, ou seja, 30% do total", aponta Priscila. Ela lembra que muitos clubes brasileiros recontratam esses atletas que retornam.
Com esse universo, temos a indústria do esporte como a quarta na pauta de exportações do país. "Só de transferências, as vendas de jogadores geraram U$ 1 bilhão entre 1994 e 2005. Antes os grandes clubes eram os celeiros. Hoje, temos os clubes de empresários. Antigamente os empresários visitavam os clubes e faziam uma porcentagem de contrato para o clube. Agora os empresários do mundo do futebol abriram seus próprios clubes", diz o professor Carlos Henrique.
Segundo ele, hoje, os empresários visualizam e "descobrem" os talentos e um agentel licenciado pela FIFA faz a transferência: "Os clubes de empresários são quase desconhecidos, não se ouve falar, mas exportam jogadores. Alguns deles são o CFZ, do Zico; o Barra da Tijuca Futebol Clube, ou o Clube Boa Vista. A intenção deles é criar talentos e vendê-los. Esses clubes tendem a crescer. Porque no site da Fifa estão listados cada vez mais clubes desse tipo. Cai um menino bom na mão deles, o menino vai para o Flamengo, Vasco, ou depois para um clube europeu. Em toda transferência, o clube formador tem um ganho de 5% que se refere à compensação pela formação do atleta", explica o professor, mostrando que quem transfere está num grande business, e o clube justifica seus ganhos contínuos porque investiu na formação de um profissional qualificado e o exporta.
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Zé Roberto jogou na Alemanha, defendeu o Brasil no |
A vigência da bolsa de Iniciação Científica da aluna é de 12 meses, mas pode ter renovação de mais 12 meses. Mas por que Priscila está dedicada aos dados e números das batalhas desses heróis internacionais do gramado? Ela disfarça, mas seu mentor acadêmico entrega: "O noivo foi ex-jogador do São Cristóvão, jogou com Ronaldo, jogou futsal e futebol de campo". Com certeza, um pontapé inicial na grande área da sociologia do esporte para quem está se especializando nas tramas do futebol exportação.
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