Vinicius Zepeda
Arquivo Pessoal |
Patrícia Keller detectou fatores de risco para |
A idéia do trabalho surgiu durante as aulas de pediatria na Universidade Gama Filho. Na disciplina, as aulas são ministradas no Centro Comunitário de Assistência à Criança e ao Adolescente no Sítio do Pai João – uma parceria da UGF com a Faculdades Souza Marques –, que fica em frente à Vila da Paz. "No período em que assisti às aulas lá eu e meus colegas observamos que de um total de 800 crianças atendidas lá – vindas das mais variadas comunidades do Itanhangá – 11% delas eram desnutridas. Depois disso, nos reunimos e resolvemos elaborar um projeto que avaliasse somente a população da Vila da Paz", lembra Patrícia.
Atualmente a pesquisa está em fase final de apuração dos resultados. "Já encerramos o trabalho de campo. Fomos em todas as casas da comunidade que têm crianças e adolescentes. Ao todo avaliamos a condição nutricional de 145 meninos e meninas de quatro meses a 18 anos", afirma a futura médica. "Nós íamos às residências sempre acompanhadas do líder comunitário e levávamos um questionário socioeconômico para as famílias responderem. Depois, as crianças eram pesadas por um nutricionista no Centro Comunitário", explica. Ela aponta o desmame precoce dos bebês como o principal fator que contribuiu para os índices de obesidade infantil. "Quase nenhuma mãe amamenta seu filho até os seis meses de idade, o que é essencial para o desenvolvimento do bebê. Elas param de dar o peito muito cedo e passam a dar mamadeira, e para engrossar o leite em pó, acrescentam farinha. Para um neném, essa prática faz engordar. Porém, não é nada saudável para seu crescimento", explica.
Patrícia Keller |
Parquinho destruído na comunidade |
O caso mais marcante testemunhado pela futura médica foi o de uma família de quatro filhos. "A maior parte das casas na Vila da Paz é de um cômodo. Nesta residência, as quatro crianças, o pai e a mãe (de apenas 22 anos e grávida do quinto filho) dormiam todos espremidos no chão. Entre as crianças, havia uma de três anos com um caso grave de desnutrição que estava sendo tratada no Centro Médico", recorda.Os questionários da pesquisa também verificaram o baixo grau de escolaridade da população local. Segundo a Patrícia, mais um motivo que contribui para a má alimentação das crianças e adolescentes. "Na maior parte das casas, vimos que o problema da obesidade vem de família. A maioria das mães que víamos eram visivelmente obesas. Entretanto, provavelmente devido ao baixo grau de instrução, quando perguntadas sobre seu peso não se consideravam gordas. Assim, é lógico que também não viam problema nos filhos", explica.
Patrícia espera continuar atendendo crianças quando se formar. Ela pretende se especializar em pediatria. Sobre a pesquisa, ela lembra que o Centro Comunitário pode e deve tratar da saúde da população local. Porém, espera que o trabalho realizado na Vila da Paz sirva para que sejam criadas campanhas educativas para evitar que o problema se agrave. "Nós detectamos fatores de risco para o surgimento da obesidade e da desnutrição no local. Espero que com este material reunido possamos fazer uma campanha de conscientização sobre alimentação para as mães", afirma. A futura médica também sonha com uma reforma da praça para que as crianças tenham uma opção mais sadia de lazer e fiquem menos ociosas. "Seria ótimo também que conseguíssemos com o apoio do centro comunitário e da população local, que fossem criada uma escolinha de futebol, de capoeira e outros esportes para as crianças daqui praticarem mais atividades físicas", conclui.
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