Vilma Homero
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Mastodontes mortos após período de seca foram |
Animais aparentados com os elefantes africanos, os mastodontes estavam entre os maiores mamíferos que habitaram a América do Sul durante o pleistoceno. Em Águas de Araxá, eles conviveram com cavalos, preguiças gigantes e macrauquênias, bichos parecidos com camelos, que apresentavam uma pequena tromba. Como descobriram os paleontólogos da equipe coordenada por Leonardo dos Santos Avilla, a população de mastodontes da região sucumbiu a um período de grande escassez de água. “Era um grupo de mais ou menos 40 indivíduos, de diferentes faixas etárias, desde filhotes até animais com mais de 60 anos de idade. Depois de mortos, suas carcaças, expostas durante um período de cerca de 230 dias, sofreram a ação de canídeos necrófagos, sendo depois alvo de larvas de insetos”, explica Avilla.
Chegar a essa conclusão não é simples como pode parecer à primeira vista. “Primeiro, estávamos lidando com fósseis guardados há 50 anos, que só recentemente começaram a ser estudados”, fala Avilla. Na verdade, cada peça desse quebra-cabeças pré-histórico foi fruto de intensas pesquisas, envolvendo técnicas modernas, desde, por exemplo, tomografias e lupas estereoscópicas até conhecimentos de entomologia forense. Reconhecer a estrutura e classes etárias da população desses animais foi objeto do estudo de Dimila Mothé, uma das especialistas que, ao lado de Avilla, de Victor Hugo Dominato e Rafael Costa da Silva, também assina o artigo.
À época bolsista de Iniciação Científica da FAPERJ, Dimila determinou a idade dos animais observando o padrão de desgaste dos dentes. “Embora a técnica seja conhecida, ainda não tinha sido aplicada a mastodontes”, explica Avilla. Para descobrir quais carnívoros – entre ursídeos, felídeos e canídeos – seriam os suspeitos mais prováveis de terem se alimentado das carcaças dos mastodontes mineiros, os pesquisadores precisaram recorrer a lupas estereoscópicas e microscópios, levados para uma sala do museu, improvisada em laboratório.
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Além das marcas de mordidas, ossos apresentam furos profundos que indicam a ação de larvas de besouro |
Outras marcas mereceram igual atenção dos especialistas. Perfurações profundas nos ossos, incompatíveis com mordidas de carnívoros, tiveram sua origem investigada pelos pesquisadores. Como o raio X não resultou numa imagem com a acuidade necessária, eles recorreram até a um tomógrafo, que evidenciou que não se tratava de marcas de mordidas. “Como também não eram fruto de rolamento, que acontece quando o material desliza sobre o solo durante os milhares de anos do processo de fossilização, pesquisamos trabalhos de entomologia forense sobre fósseis de elefantes africanos”, conta Avilla. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que as perfurações se deviam à ação de larvas de besouros. Por se alimentarem da parte esponjosa dos ossos, essas larvas só chegam às carcaças expostas depois que elas já perderam as camadas de pele e de gordura. “Isso também nos deu uma estimativa do tempo de exposição das carcaças, algo em torno dos 230 dias.”
Para Avilla, o trabalho mostrou que sempre é possível extrair novas informações de fósseis, mesmo aqueles que tenham sido descobertos há dezenas de anos. “Não é por acaso que colegas de outras áreas nos chamam de CSI da paleontologia, já que costumamos buscar evidências para recuperar informações sobre vida e morte de animais já extintos”, comenta. Ele enfatiza também que a coleção de Araxá teve uma importância enorme, já que foi a partir da descoberta desses fósseis, nos anos 1950, que foi criada a única lei de proteção ao patrimônio fossilífero nacional. “E só recentemente, 50 anos depois da descoberta, pudemos começar os estudos sobre esse material, com o apoio do Instituto Virtual de Paleontologia da FAPERJ”, fala Avilla. Ele se entusiasma ainda mais ao revelar que todas as informações descobertas serão apresentadas na III Jornada de Zoologia da UniRio (http://www.unirio.br/ecb/zoologia/jornadazoo2011//), maior evento regional da área, previsto para acontecer entre os dias 11 e 13 de maio deste ano.
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